Título: Falha mecânica ou humana ganha força
Autor: Lamucci, Sergio e Campassi, Roberta
Fonte: Valor Econômico, 20/07/2007, Especial, p. A5

As imagens do Airbus A-320 da TAM, cruzando com velocidade acima do normal a pista do aeroporto de Congonhas, associadas à falta de marcas que sugiram derrapagem da aeronave e às avaliações mais detalhadas feitas pelo Centro de Investigação de Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) na pista principal, reforçaram, ontem, a hipótese de falha humana ou de equipamento como causa do acidente que provocou a morte de mais de 190 pessoas, das quais 186 estavam a bordo da aeronave.

Relatos recebidos pelo Comando da Aeronáutica e pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) indicam que o problema pode ter sido com o sistema de reversão da turbina, que ajuda a frear a aeronave. Em entrevista, o chefe do Cenipa, brigadeiro Jorge Kersul, admitiu a hipótese, mas não a aprofundou. Segundo essa hipótese, o piloto pousou normalmente, mas uma das turbinas não resistiu à grande elevação de potência exigida para frear a aeronave. Com isso, teria havido uma "explosão do compressor", gerando o clarão visto nas imagens. A TAM admitiu, ontem, um problema no reversor, mas o descartou como causa do acidente.

O presidente da Associação de Pilotos e Proprietários de Aeronaves (Appa), George Sucupira, avalia que a causa mais provável do acidente com o Airbus A-320, da TAM, é uma falha humana. Ele acredita que, depois da reforma, a pista principal estava em condições de operar mesmo sem o "grooving", já que ela teria recuperado o declive necessário para evitar empoçamentos. Sucupira lembra ainda que, segundo as autoridades, não há marcas na pista que sugiram uma derrapagem.

Ele também considera improvável uma falha mecânica. Sucupira diz que aviões como o da TAM têm um sistema de monitoramento de parâmetros de vôo, que permite às companhias aéreas acompanharem o que ocorre com a aeronave até mesmo em tempo real, conhecido como FOQA. Para ele, se tivesse ocorrido um problema com os freios do Airbus, por exemplo, a TAM já teria conhecimento. Isso ajudaria a explicar por que o presidente da TAM, Marco Bologna, teria sido tão enfático na entrevista de anteontem ao dizer que a aeronave estava em boas condições. A questão, porém, é que a TAM não acompanha as informações em tempo real, e sim os analisa posteriormente.

Nesse cenário, restaria a falha humana como causa mais provável, avalia Sucupira, reconhecendo que se trata de um assunto delicado. O que é difícil de entender - e que provavelmente será esclarecido com as degravações das caixas pretas - é por que o piloto não reduziu a velocidade na hora do pouso, depois de ter aterrissado na velocidade adequada e tocado a pista no ponto previsto.

Internamente, a TAM não considera que a causa do acidente foi de ordem mecânica, ou seja, um defeito no Airbus A320. A checagem dos antecedentes da aeronave e a análise de como ocorreu o desastre é que levam a companhia a essa tese. Em 1996, quando o Fokker-100 da TAM caiu, a empresa tinha a certeza, no mesmo dia, que havia ocorrido um problema na aeronave, só não sabia exatamente qual. Desta vez é diferente, segundo apurou o Valor. Por prudência, a TAM tem evitado descartar qualquer hipótese, em especial publicamente, mas considera mínimas as chances de falha mecânica. A checagem do histórico de operação da aeronave, inclusive dos últimos pousos, sustenta essa crença.

O Serviço Regional de Proteção ao Vôo se São Paulo (SRPV-SP), responsável pelo controle de tráfego nos Estados de São Paulo e Rio de Janeiro, confirmou que vários pilotos alertaram que a pista principal de Congonhas estava escorregadia. Ao todo, foram dez relatos registrados pela torre de controle no início da semana: três no domingo e sete na segunda-feira.

Segundo um dos coordenadores do SRPV, p volume de água na pista é medido pela Infraero sempre que há alertas, sem exceção. O objetivo é verificar a formação de lâminas d ? agua em altura superior a três milímetros, o que poderia causar derrapagens. Na terça, a medição da água ocorreu três vezes, a última 53 minutos antes do acidente com o Airbus da TAM. Como estava tudo bem, a pista foi liberada. (Com agências noticiosas)