Título: Lula decide afastar ministro e procura um gerente para a crise
Autor: Costa, Raymundo e Jaime, Thiago Vitale
Fonte: Valor Econômico, 20/07/2007, Especial, p. A9

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu afastar o ministro da Defesa, Waldir Pires, e já procura o nome de um substituto para o cargo. Haverá mudanças também no comando da Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Portuária (Infraero). Na medida em que passou a se sentir mais seguro de que o acidente com o vôo 3054 da TAM não foi motivado por problemas na pista do aeroporto de Congonhas, o Palácio do Planalto resolveu acelerar as medidas para o setor aéreo, depois de avaliar que precisava dar respostas rápidas à sociedade, inclusive com o pronunciamento do presidente da República à nação, em cadeia de rádio e TV. A avaliação é que a entrevista do porta-voz, concedida no dia do acidente, não fora suficiente. Entre as medidas, devem-se tornar mais "conservadoras" as operações de Congonhas.

Lula tem dificuldades para demitir o ministro Waldir Pires, por não querer que ele seja responsabilizado pela crise e pelo acidente do avião da TAM. Mas foi convencido de que essa era uma das respostas esperadas pela sociedade, após meses de crise. O presidente já começou a fazer sondagens, mas os nomes que circularam entre ministros e congressistas são os mesmos das outras vezes que a hipótese esteve em cogitação: o deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP), o ex-presidente do Supremo Nelson Jobim e o do jurista Ives Gandra Martins.

A substituição de Waldir Pires foi assunto da reunião da coordenação política do governo, realizada na manhã de ontem para discutir a crise do setor aéreo, sem a presença do ministro da Defesa. Segundo confidenciou a congressistas um dos ministros presentes à reunião, Lula procura um nome de peso para colocar no lugar do petista no comando das Forças Armadas. "O Waldir está na iminência de cair. É só questão de achar uma saída", contou um dos líderes da coalizão governista no Congresso.

"O presidente já procura um nome para o lugar do Waldir", disse esse ministro ao líder governista. A própria reunião da coordenação já foi uma demonstração clara do esvaziamento político do ministro: Waldir Pires não foi convidado para o encontro, que debateu toda a crise aérea e as questões relacionadas ao acidente com o avião da TAM.

Embora a assessoria da Presidência tenha informado que a ausência de Pires é normal, já que não é freqüentador habitual dos encontros do conselho político, atitudes de Lula em momentos de crise provam o contrário. No dia 26 de março de 2007, quando o aeroporto de Guarulhos sofria com as neblinas e o sistema aéreo estava conturbado, o presidente chamou o ministro da Defesa para a reunião de coordenação.

O presidente pensa em mudar também o comando da Infraero, mas a substituição pode ficar para um segundo momento. O presidente também procura um gestor para coordenar os diferentes órgãos que atuam no setor aéreo. Pela manhã, chegou-se a sugerir que esse gestor poderia ser o secretário-executivo do Conselho Nacional de Aviação (Conac), mas a proposta era estudada com cautela, pois o secretário, no formato atual, é um subordinado do ministro da Defesa. A idéia é ter alguém como "a ponta de um guarda-chuva", na descrição de um assessor do presidente. Mas o Conac deve passar a representar papel mais ativo no gerenciamento do setor.

O Planalto está particularmente insatisfeito com a atuação da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), que considera muito subordinada aos interesses das empresas de aviação. Mas pouco ou quase nada pode fazer ali, por enquanto, pois os conselheiros têm mandato. O respaldo para as medidas que pretende o governo tomar, e que devem contrariar as empresas, viria portanto da Anac. Entre as medidas está o descongestionamento do aeroporto de Congonhas, que realiza mais de 600 operações-dia.

Na avaliação do Palácio do Planalto, Congonhas opera dentro das normas internacionais. A idéia é tornar as operações "mais conservadoras" ou rigorosas do que aquelas aceitas pelas normas internacionais de aviação. Medida justificada pelo simples fato de que o aeroporto opera dentro de uma área urbana.

A oposição começa hoje a pressionar o governo na CPI do Apagão Aéreo da Câmara. O deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR) promete levar ao encontro da comissão, marcado para as 11h de hoje, questionamentos e protestos contra a imobilidade do governo diante da crise aérea. "A Aeronáutica e a Infraero pressionavam para a redução de pousos e decolagens para 44 por hora em Congonhas. A Anac e as empresas queriam 48. E o governo se submeteu a essa pressão. Foi um erro que nós, da CPI, havíamos apontado", disse Fruet. Ele também pretende cobrar os governistas da comissão. "A base bloqueou nossos pedidos de auditorias nas pistas de Congonhas. Vamos cobrá-los."