Título: "Colchão de contenção" pode diminuir risco de acidentes
Autor: Souza, Marcos de Moura e
Fonte: Valor Econômico, 20/07/2007, Especial, p. A10

Já existem soluções de infra-estrutura para deter aviões que não conseguem frear totalmente até o fim das pistas de pouso, diminuindo os riscos de acidentes como o que envolveu o Airbus A-320 da TAM. Aeroportos como John F. Kennedy (Nova York) e London City (Londres) têm "colchões de contenção", feitos de materiais como areia grossa, cascalho, pedregulho e concreto ou blocos de cimento triturado.

A profundidade dos "colchões" aumenta à medida que o avião se aproxima da cabeceira do aeroporto. Com essa estrutura, minimiza-se o risco de que a aeronave fora de controle ultrapasse os limites do aeroporto.

"Acidentes como o visto em Congonhas estão entre os mais comuns no mundo da aviação", afirma Gideon Ewers, porta-voz da Ifalpa, a federação internacional dos pilotos de companhias aéreas. "Mas, geralmente, esse tipo de colisão acontece a uma média de 50 nós (cerca de 92 quilômetros por hora)", explica o especialista. Pelo menos três grandes tragédias já foram evitadas por causa desses colchões, segundo Ewers, referindo-se ao "arrestor-bed" (nome do sistema, com tradução livre para o português). "Houve impacto, mas os passageiros saíram andando."

De acordo com o porta-voz da Ifalpa, esses sistemas custam entre US$ 2 milhões e US$ 3 milhões por pista. A instalação demora seis semanas. Segundo informações da FAA, o órgão regulador da aviação nos Estados Unidos, colchões de contenção com 600 pés (183 metros) de extensão podem desacelerar "com segurança" um avião do porte de um Boeing 767. Em janeiro de 2005, um Jumbo usado como cargueiro pela Polar Air Express foi contido com sucesso na pista 4R do John F. Kennedy, principal aeroporto de Nova York. Pesava 276 toneladas e estava a cerca de 80 km/h. Só parou quando atingiu o colchão de contenção. Caso contrário, teria saído do aeroporto.

O coordenador técnico e especialista em segurança de vôo do Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias (Snea), Ronaldo Jenkins, compara o sistema a "uma caixa de brita de Fórmula 1". "É uma tecnologia novíssima, que tem sido experimentalmente. O material segura a aeronave, mas ainda precisa ser mais bem estudado", afirmou Jenkins. Segundo ele, a implementação do sistema nunca foi estudada no Brasil e não tem regulamentação da Organização de Aviação Civil Internacional (OACI), órgão vinculado às Nações Unidas que monitora o setor aéreo no mundo todo.

Segundo comunicado da Ifalpa divulgado aos seus associados, o acidente em Congonhas "demonstra uma vez mais a necessidade do estabelecimento de padrão Resa (Runway End Safety Areas) em aeroportos com operações de companhias aéreas". Esse padrão, reconhecido pela OACI, se refere à área de segurança na extremidade de uma faixa da pista - um mínimo de 240 metros de extensão, sendo de 300 metros a largura ideal de escape e acesso de bombeiros e equipes de resgate. Para a Ifalpa, Congonhas é um "exemplo típico" de aeroporto em que a topografia do entorno impede o estabelecimento do padrão Resa.

A federação diz que, na impossibilidade de reservar essa área para segurança no fim da pista, torna-se necessária adotar os colchões de contenção. O sistema foi desenvolvido pela autoridade aeroportuária de Nova York e Nova Jersey. De acordo com a Ifalpa, essa estrutura pode oferecer as mesmas condições de segurança do padrão Resa.

Apesar de nem sempre terem vítimas, são relativamente comuns episódios em que aeronaves não conseguem frear até o limite da pista de pouso. Segundo a Ifalpa, há uma média de quatro incidentes por mês. Eles podem ser causados por diversos motivos: uso inadequado dos flaps, erro humano, neve ou aquaplanagem, falhas no sistema de freio ou no reverso.