Título: Analistas criticam prioridade para obras em terminais
Autor: Souza, Marcos de Moura e
Fonte: Valor Econômico, 20/07/2007, Especial, p. A10

As obras para o setor aeroportuário previstas no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) estão mal direcionadas. Elas priorizam investimentos em terminais de passageiros e de cargas, deixando a desejar no tocante à infra-estrutura operacional de pista, segundo avaliação de especialistas ouvidos pelo Valor. A não inclusão no programa da terceira pista de Guarulhos juntamente com o terceiro terminal de passageiros é vista como uma falha grave.

O PAC prevê investimentos totais de R$ 3 bilhões de 2007 a 2010 para o setor aeroportuário, concentrados nos 20 maiores aeroportos e quatro terminais de cargas do país. Ainda que a estatal Infraero preveja investir outros R$ 3 bilhões no mesmo período, os valores são considerados insuficientes frente às necessidades de R$ 10 bilhões a R$ 12 bilhões, sem considerar aeroportos novos, para os próximos cinco anos, reconhecidas pelo próprio ministro do Planejamento, Paulo Bernardo.

Nem os poucos recursos previstos estão sendo concretizados no ritmo desejável. Dos R$ 968,8 milhões previstos no orçamento para investimento em 2007 no desenvolvimento da infra-estrutura aeroportuária no país, apenas R$ 175,7 milhões, ou seja, 18,1% foram realizados até o final de abril, segundo dados do Planejamento. Em segurança de vôo e controle do espaço aéreo, a realização orçamentária é um pouco melhor: foram aplicados 27,4% (R$ 409,9 mil) do escasso R$ 1,495 milhão previsto para o ano.

"O dinheiro (do PAC) não está sendo aplicado de forma prioritária na área de infra-estrutura de pista, que é o realmente necessário", diz Miguel Dau, gestor judicial da Nordeste (antiga Varig). Ele entende que o programa não está em sintonia com uma solução para a crise aeroportuária, resultante, em grande medida, segundo ele, da falta de coordenação das diferentes esferas do Estado que cuidam da aviação civil.

O consultor especializado em transporte aéreo Paulo Sampaio usa o exemplo de Congonhas para mostrar como é baixa a prioridade quando se trata de investir em pistas. "Foram usados R$ 20 milhões na pista e R$ 400 milhões no terminal", enfatiza. Para ele, o resultado foi uma pista deficiente que, independentemente das ranhuras que deixaram por fazer, está dificultando as operações de pouso.

Para Sampaio, a carência de pistas está concentrada em São Paulo e ele avalia como erro prever o terceiro terminal sem prever a terceira pista de Guarulhos. "Por demagogia, deixaram uma favela ocupar a área onde deve ser construída a terceira pista e agora vai ser muito difícil removê-la de lá."

Ele também se disse "escandalizado" com a decisão anunciada ontem pelo presidente da Infraero, brigadeiro José Carlos Pereira, de protelar para março o início da reforma da segunda pista de Guarulhos. Sampaio considera essencial que Congonhas deixe de ser usado para conexões e para vôos de longa distância, como já foi feito com os outros dois aeroportos centrais do país (Santos Dumont, no Rio, e Pampulha, em Belo Horizonte).

Dos R$ 3 bilhões previstos no PAC para até 2010, R$ 2,4 bilhões serão investidos no Sudeste (R$ 1,8 bilhão) e Sul (R$ 601 milhões), regiões que concentram cerca de 75% do fluxo de passageiros no mercado doméstico. No Sudeste, as obras previstas incluem, além de Congonhas, a reforma da pista e a construção do terceiro terminal de Guarulhos, a quase concluída obra do aeroporto Santos Dumont e as obras em Vitória (ES).

Em Porto Alegre, a ampliação da pista do aeroporto Salgado Filho está atrasada por dificuldades de remoção de comunidades. Para o Centro-Oeste, Nordeste e Norte o PAC prevê, respectivamente, investimentos de R$ 353 milhões, R$ 151 milhões e R$ 95 milhões.