Título: Aeroportos em áreas urbanas são comuns no mundo todo
Autor: Souza, Marcos de Moura e
Fonte: Valor Econômico, 20/07/2007, Especial, p. A10

Aeroportos rodeados por ruas e avenidas, prédios, casas e comércio são relativamente comuns em diversas cidades do mundo. Muitos desses aeroportos têm uma história semelhante à de Congonhas: foram construídos em áreas distantes da malha urbana e aos poucos acabaram alcançados pela cidade. Nem por isso, porém, são considerados mais vulneráveis a acidentes, dizem entidades internacionais da aviação.

Em muitas capitais latino-americanas aviões pousam e decolam de aeroportos no meio das cidades. É o caso, de Cidade do México, Bogotá, Quito, Tegucigalpa, Lima e mesmo Buenos Aires, lembra Eduardo Flores, secretário-geral para a América Latina e Caribe do Conselho Internacional de Aeroportos (AIC, na sigla em inglês). A concentração de áreas residenciais ou comerciais no entorno das pistas varia, mas todas estão em áreas metropolitanas.

O mesmo acontece em aeroportos de algumas cidades da América do Norte e Europa, como Montreal, Nova York, Phoenix ou Paris.

"Isso não é necessariamente ruim ou perigoso, desde que sejam cumpridas as regras obrigatórias de segurança", diz Flores.

Segundo ele, não há no mundo registros de maior quantidade de acidentes em aeroportos urbanos. É claro, diz Denis Chagnon, da Organização de Aviação Civil Internacional (Oaci), que quando ocorrem acidentes em aeroportos cercados de área urbana, crescem as chances de que o número de vítimas seja maior. Mas, argumenta Chagnon, um acidente num aeroporto cercado por uma área rural, continuará sendo um acidente com possíveis danos e vítimas. "As operações de aviação seguem um grande número de procedimentos e treinamentos. São 25 milhões de vôos por ano e alguns poucos acidentes. E os aeroportos nas cidades não são mais vulneráveis a esses episódios quando as regras são seguidas", reitera ele.

Para a Federação Internacional das Associações de Pilotos de Avião, o problema está justamente aí. "Esse é um problema em todo o mundo. Milhares de pistas usadas em operações de linhas aéreas deixam de seguir recomendações estabelecidas pela Oaci no Anexo 14, que estabelece padrões e recomendações para os aeroportos."

Entre as recomendações, estão a construção de extensões das pistas, que servem como área de segurança para eventuais derrapagens, por exemplo. Outro recurso defendido pela federação de pilotos, é a instalação de uma espécie de área de tração no fim da pista, feita de areia ou pequenas pedras. Segundo a entidade, essas áreas (Emas, na sigla em inglês) representam uma segurança semelhante à oferecida por uma área de 300 metros além da pista. Denis Chagnon diz que além de areia e pedras, já há aeroportos testando o uso de um tipo de espuma como equipamento de tração. "Mas a eficiência desses sistemas sempre depende de onde o avião toca a pista."

Um levantamento recente feito pela revista "Forbes", apontou que desde 2001, 108 viajantes morreram em colisões no solo envolvendo aviões comerciais. Muitos desses casos ocorreram em aeroportos altamente congestionados. "A maior parte, se não todos, desses acidente poderia ter sido evitada se os aeroportos tivessem equipamentos apropriados", afirma a reportagem. E acrescenta que analistas atribuíram esses episódios a "congestionamento, tempo, pistas mal projetadas e falhas do piloto".

Os aeroportos internacionais de Los Angeles, Newark, em Nova Jersey, e o de Phoenix (Arizona) aparecem na lista dos mais problemáticos. Neste último, diz a revista "novos edifícios e construções em andamento interferem a capacidade das torres de controle de monitorarem visualmente os aviões."