Título: Visitas ao jazigo de ACM ficam aquém do esperado
Autor: Cruz, Patrick e Felício, César
Fonte: Valor Econômico, 23/07/2007, Política, p. A12

Depois de ter reforçado o esquema de segurança no local para conter possíveis tumultos no primeiro dia de visitação ao jazigo do senador Antonio Carlos Magalhães, o cemitério do Campo Santo registrou um número de visitantes abaixo do esperado. A administração do cemitério informou que, até o final da manhã, período em que era esperado o maior fluxo de pessoas, apenas cem pessoas visitaram ontem o túmulo de ACM, cerca de 20% do número esperado.

As homenagens populares no velório e no enterro de Antonio Carlos Magalhães foram menores que as registradas no sepultamento de Luís Eduardo Magalhães, seu filho, morto em 1998, das quais participaram cerca de 60 mil pessoas. Menos de 10 mil pessoas passaram pelo velório no Palácio da Aclamação. Em frente ao cemitério onde ambos foram sepultados, o trânsito fluiu normalmente até menos de duas horas antes da chegada do caixão. Perto de três mil pessoas participaram do enterro.

Dois fatores podem ter contribuído para isso: as gerações mais novas ainda não participavam da vida pública quando ACM foi governador pela última vez (1991-94) e o carlismo entrou em decadência com a vitória do PT ao governo. ACM é mantido no imaginário popular pelas gerações que acompanharam sua ascensão ao poder no regime militar até o apogeu da Nova República

Era fácil identificar entusiastas e opositores pela maneira como se referiam ao político: nas ruas, os simpatizantes o chamavam de "o senador" ou "Antonio Carlos"; antagonistas anônimos o tratavam como "o velho". Os galhofeiros adotaram "cabeça branca", alcunha carinhosa de campanha.

Em 2004, mesmo com a derrota iminente do senador César Borges no segundo turno para a prefeitura de Salvador, os entusiastas permaneceram fiéis. Como sempre ocorria, ACM chegou à sua seção eleitoral no Clube Baiano de Tênis sob chuva de pétalas de rosas, uma banda animada e hinos religiosos, como o Senhor do Bonfim. Foi a última vez em que se registrou o ritual de ares sacros, já que o clube foi desativado e a seção eleitoral de ACM, deslocada para um prédio da Universidade Federal da Bahia.

Os opositores permanecem inconformados com a mudança do nome do aeroporto de Salvador. Antes chamado Dois de Julho, data cívica da Bahia, o terminal foi rebatizado como Luís Eduardo Magalhães. Macular referências ao filho que ACM queria ver presidente da República era um dos objetivos de quem não gostava do senador. "Meu sonho é pichar aquela estátua. Um dia eu consigo", disse um ex-agrimensor ouvido pelo Valor.

Luís Eduardo tem uma estátua na Avenida Paralela, em frente ao Centro Administrativo, onde fica a sede do governo baiano. O caminhão do Corpo de Bombeiros que levou o caixão de ACM reduziu a velocidade no local, ponto de maior concentração do trajeto. Logo adiante, na Avenida ACM, parte do percurso, não havia grupos de pessoas esperando pelo cortejo.

Continuaram irredutíveis, porém, os taxistas, seus tradicionais eleitores, que seguiram a carreata desde o início, na Base Aérea. "A Bahia perdeu um pedaço", disse Carlos Augusto Dias, presidente do sindicato dos taxistas, de 64 anos de idade e 33 anos de praça. "Para o senador, os taxistas eram o cartão de visitas da cidade". (PC)