Título: Tributo dificulta vendas
Autor: Batista, Vera
Fonte: Correio Braziliense, 01/01/2011, Economia, p. 9

Se não fossem os impostos, os produtos que embelezam ou limpam custariam menos. A legislação atual também asfixia negócios

A elevada carga tributária é um dos principais obstáculos identificado pelos empresários para uma forte expansão dos segmentos de higiene pessoal, beleza e limpeza. Cerca de 45% do preço do amaciante de roupas e 43% do sabão em pó, por exemplo, são impostos. Somado ao fato de que 98% dos fabricantes de artigos de limpeza são micro e pequenos empresários, não é difícil imaginar o quanto a mão arrecadadora do Estado pesa sobre os negócios do setor. Sensível à causa feminina e eleita sob a bandeira da manutenção do bem-estar da nova classe média, a presidente Dilma Rousseff pode, se quiser, ajudar as vendas de batons, cremes e detergentes crescerem ainda mais.

O primeiro passo seria sugerir mudanças na legislação, bastante anacrônica. Fabricantes de cosméticos e produtos higiênicos garantem que ela asfixia. A Lei de Vigilância Sanitária é de 1976 e sofreu, de lá para cá, apenas algumas pequenas modificações em 2005. As discussões com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) estão adiantadas, mas a Associação Brasileira das Indústrias de Produtos de Limpeza e Afins (Abipla) ainda pleiteia coisas simples, como a unificação de informações nos rótulos.

Informalidade

João Elói, presidente do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT), explica que um artigo que sai da fábrica por R$ 80, chega ao consumidor final por R$ 250. ¿O problema é que boa parte desses 61 tributos e taxas são repassados de um para o outro. Incide em toda a cadeia.¿

Nelson Silveira, presidente da Cottonbaby ¿ uma indústria de produtos de higiene pessoal que tem como carro-chefe as hastes flexíveis com ponta de algodão ¿ é duro contra o que considera um disparate. ¿O empresário é apenas intermediário do governo¿, dispara. E denuncia: ¿O tributo exorbitante e a falta de informação são responsáveis pela informalidade de 55% dos fabricantes. Da água sanitária vendida, produto que está presente em 95% dos lares brasileiros, 55% é irregular.¿

Apesar da extorsão fiscal, em seus 17 anos de existência a Cottonbaby registrou o maior crescimento em vendas em 2010: 35%,comparado ao ano anterior. Investiu R$ 3 milhões em equipamentos e vai, em 2011, dobrar esse valor. Tem projeções de manter o desempenho de 30% anuais até 2015.

Eles se cuidam

Depois que as necessidades básicas de comer, vestir e morar estão supridas, o sonho de entrar em uma clínica especializada para melhorar a autoestima vem à tona, ensina o cirurgião plástico Ronaldo Guimarães, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP). Os hospitais acolhem essa grande massa, incentivados pelo pleno emprego e pela valorização do real frente ao dólar. ¿Há cinco anos, o fabricante vendia uma prótese de seio por US$ 2 mil. O mesmo produto, agora, sai por US$ 1 mil. A lei da concorrência forçou esse processo¿, argumenta o médico. Pesquisas da SBCP e do Ibope revelam dados surpreendentes: em 2009, das 650 mil cirurgias, 104 mil foram contratadas por homens.

A plástica deixou de ser um tabu para eles, embora não façam questão de divulgar as visitas às mesas de cirurgia. ¿Homens exigem segredo. Tiram férias, somem de circulação, voltam 30 dias depois e contam que fizeram tratamento de pele ou regime¿, diz Guimarães. Admitindo ou não as intervenções, o sexo masculino não nega que está consumindo mais produtos de beleza. O empresário Rafael Nascimento, 28 anos, tem renda mensal de R$ 4 mil e preocupa-se com a aparência por acreditar que, assim, agrada mais às mulheres. ¿Na medida em que passei a ganhar mais, abandonei o gel e comecei a usar uma cera especial para o cabelo. Só não gasto mais porque tenho outras prioridades¿, justifica. (VB)