Título: Vivo reduz perdas, mas contrato com sócios impacta ações
Autor: Valenti, Graziella
Fonte: Valor Econômico, 23/07/2007, Empresas, p. B3

O clima esquentou na Vivo. A companhia entregou no segundo trimestre deste ano o melhor desempenho comercial desde 2004. De cada 100 novos clientes da telefonia móvel no país, 35 optaram pela empresa. Para conseguir essa performance, a operadora gastou mais e, por isso, trouxe uma rentabilidade um pouco menor do que era esperado pelos investidores para o intervalo entre abril e junho. Mas a frustração seria menos impactante não fossem os R$ 42 milhões pagos à Brasilcel, sociedade veículo do controle da Portugal Telecom e da Telefónica.

O pagamento foi revelado aos analistas do setor durante teleconferência realizada na sexta-feira. Criado em 1998, trata-se de um contrato de transferência de tecnologia com os acionistas, cuja remuneração é baseada em resultado e valorização das ações.

O tema trouxe polêmica à teleconferência. A dificuldade na compreensão do contrato e sua justificativa refletiu-se nas ações, que despencaram 6,67% na sexta-feira. Na prática, houve redução de quase R$ 600 milhões no valor de mercado da empresa, que fechou o pregão em R$ 16,2 bilhões.

O presidente do grupo, Roberto Lima, afirma que o acordo se justifica porque a companhia obtém economia na compra de aparelhos celulares e equipamentos, dada a escala global de seus acionistas controladores. Os sócios também trazem vantagem na experiência com novos serviços, testados antes junto aos consumidores europeus. O contrato é original da Telesp Celular, incorporadora das operadoras do grupo, antes da criação da Vivo S.A, no fim de 2005.

O desconforto do contrato foi apimentado pelo fato de o pagamento ser superior aos R$ 32 milhões obtidos com lucro antes dos juros e impostos (lair), do segundo trimestre. Além disso, foi bem maior do que os R$ 8,7 milhões transferidos à Brasilcel por todo o exercício de 2006.

A reação em bolsa carrega mais ansiedade e dúvidas do que análise de fundamentos. Há tempos, analistas e investidores aguardavam por uma guinada estratégica da Vivo. O balanço do segundo trimestre foi a primeira fotografia da gestão após a estréia da tecnologia GSM. A companhia gastou mais com subsídios mas voltou a registrar vendas elevadas. Porém, ainda não produziu a segurança desejada de que deu a volta por cima - o "turn around" tão esperado pelos analistas.

A base de clientes voltou a casa dos 30 milhões, nível de um ano atrás, antes da limpeza que eliminou dois milhões de assinantes inativos. O faturamento apresentado subiu 16,3% sobre igual intervalo de 2006, para R$ 3,021 bilhões. O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (lajida) subiu 107% e somou R$ 634,2 milhões - lembrando que o mesmo trimestre do ano passado foi negativamente impactado por perdas extraordinárias de inadimplência.

O otimismo do mercado desacelerou já na quinta-feira. Depois de mostrar em maio a primeira alta na participação de mercado, a líder perdeu 0,04 ponto percentual na fatia de junho, para 29,35%. Segundo Lima, o desempenho é bastante superior às perdas médias que ocorreram até o começo deste ano. "Estamos acompanhando o mercado. Agora, é tudo uma questão de equilibrar o financeiro", diz, referindo-se à relação entre promoções e rentabilidade.

Apesar de buscar números saudáveis, o executivo não vê como a receita gerada possa atender aos investimentos e ainda remunere o capital investido. "Não vejo as móveis terem capacidade de pagar dividendos no curto prazo." Evidência disso na Vivo é o prejuízo de R$ 112,8 milhões, registrado entre abril e junho. A perda é 77% menor do que os R$ 493,1 milhões de igual período do ano passado.

Boa parte da responsabilidade do prejuízo está no custo financeiro do endividamento. A operadora tem investimentos estimados em R$ 700 milhões para o curto prazo, com a instalação de rede em Minas Gerais e seis Estados nordestinos - onde não possui atuação. A iniciativa depende do leilão próximo de freqüências. Em seguida, deverá ocorrer também a licitação para a 3ª Geração de telefonia móvel, cujo edital está em consulta pública.

Esses gastos se somarão à dívida líquida de R$ 3,3 bilhões detida no encerramento de junho. O vice-presidente financeiro, Ernesto Gardeliano, disse que esse nível é confortável e que a companhia tem espaço para se alavancar mais.

Lima não quis comentar a situação dos acionistas. Apenas um deles deverá ficar no controle, em função de interesses setoriais divergentes. Porém, não há acordo até o momento. Segundo ele, a Vivo está blindada e as decisões são no melhor interesse da empresa.