Título: Avião tinha plenas condições de voar, diz empresa
Autor: Lamucci, Sérgio e Adachi, Vanessa
Fonte: Valor Econômico, 19/07/2007, Especial, p. A8

Numa entrevista de uma hora e meia com jornalistas, a TAM garantiu que sua aeronave Airbus A320 estava com a manutenção em dia e adaptada para operar na pista de Congonhas. A companhia reiterou que não havia qualquer registro de panes no avião até o momento da decolagem no aeroporto de Porto Alegre, origem do vôo 3054.

Segundo Ruy Amparo, vice-presidente técnico da empresa, a aeronave estava voando com peso menor do que o limite estabelecido pela fabricante Airbus para operação em pista molhada e sem o chamado "grooving" (ranhuras), como era o caso da pista principal de Congonhas no momento do acidente na terça-feira, que matou cerca de 200 pessoas. O avião voava com peso de 62,7 toneladas, quando o limite era de 64,5 toneladas, conforme a TAM. Tinha capacidade máxima de transportar 185 pessoas, incluindo tripulação, mas viajava com 186, pois um dos passageiros era um bebê.

A TAM informou que a aeronave passou por revisão simples no dia 13 de junho e por revisão geral (chamada de "cheque D") em 20 de novembro de 2006, pouco antes de ser incorporada à frota da empresa, em dezembro. O avião já tinha oito anos de vida e havia voado 26,3 mil horas. Em número de vôos, contabilizava 9,3 mil, número pequeno frente à capacidade total de realizar 90 mil vôos, segundo informações da Airbus.

Segundo Amparo, os pilotos devem reportar problemas no equipamento a cada pouso realizado. "Não houve qualquer registro de pane no livro de bordo enquanto o avião estava em Porto Alegre", afirmou. A TAM disse que repassou os dados operacionais registrados durante o vôo 3054 às autoridades que investigam o acidente e que, portanto, não teve acesso a eles.

Perguntado sobre a capacidade de o A320 operar em Congonhas - a pista principal tem 1.939 metros e a auxiliar tem 1.436 metros -, o presidente da companhia, Marco Antonio Bologna, afirmou que o avião é "totalmente homologado e compatível". A TAM realizou 2.152 decolagens e 2.160 pousos no aeroporto em Congonhas sem problemas desde que pista principal foi reaberta há 20 dias, após reforma.

Desde o acidente, foram divulgadas na imprensa gravações em que pilotos afirmam à torre de controle do aeroporto que a pista estava escorregadia por causa das chuvas. Bologna afirmou que a TAM não recebeu qualquer alerta de seus tripulantes em relação às condições das pistas no principal aeroporto do país. "Não há nenhum relato formal de problemas", disse. "Congonhas é seguro. Há restrições, mas todas as operações levam as restrições em conta."

Segundo Bologna, o risco de derrapagem se daria na pista sem o "grooving" caso houvesse acúmulo de água acima de três milímetros. "Pressupõe-se que no momento do acidente houvesse menos de três milímetros, porque o aeroporto estava aberto para pousos." A Infraero é responsável por fazer a medição.

A TAM negou rumores de que um dos pilotos que operava o A320, Henrique Stephanini Di Sacco, estivesse em treinamento. O profissional foi contratado em janeiro deste ano, mas, segundo a empresa, já era um comandante com plenas condições de operar o equipamento. O outro piloto, Kleyber Lima, estava na companhia há 19 anos. Segundo a TAM, ainda não é possível saber quem estava no comando do avião. Lima acumulava mais de 13 mil horas de vôo e Stephanini, mais de 14 mil. Um piloto de linhas aéreas precisa ter 10 mil horas de vôo.