Título: Desafios não darão folga a Dilma
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Fonte: Correio Braziliense, 01/01/2011, Opinião, p. 12

Ainda que o país tenha evoluído nos últimos oito anos, o cardápio de demandas do início do primeiro mandato de Lula não difere tanto do que deve servir ao governo Dilma Rousseff. O presidente mais bem avaliado da história tirou 12 milhões de pessoas da linha de pobreza, fez com que 30 milhões migrassem para a classe C e criou 14 milhões de empregos com carteira assinada. Mas passa o cargo sem ter, nem de longe, resolvido os problemas da educação, da saúde, da previdência social, da segurança pública, da infraestrutura, do intricado sistema tributário, da política monetária e por aí vai.

Não bastasse tamanho baú de pendências, Lula entrega a faixa presidencial a Dilma com o peso da avaliação positiva de 87% dos brasileiros, para quem seu desempenho pessoal foi ótimo ou bom. Está aí o principal desafio da sucessora: não se curvar sob a responsabilidade de agora ter de corresponder à expectativa da população e ao menos se igualar ao antecessor. Para tanto, em primeiro lugar, não poderá deixar arrefecer as conquistas sociais em curso. E a tarefa inclui assegurar ao país o salto de qualidade que permitirá às pessoas andarem com as próprias pernas, rompendo a dependência do Bolsa Família.

Com a inflação voltando a galope, o juro básico da economia nas alturas, a máquina pública onerosa como sempre, a crise internacional do câmbio afetando as exportações, e o país obrigado a estar pronto para sediar a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016, a presidente não terá folga. Até a marcha acelerada do Brasil neste último ano do governo Lula é, além de bem-vinda, desafiadora. Caberá a Dilma Rousseff dar sustentabilidade ao crescimento, que já começa a ser travado pela falta de mão de obra qualificada e a exigir mais e melhores estradas, portos, ferrovias, reforço do potencial energético.

Para não ficar no meio do caminho, a presidente precisa investir pesado na modernização da administração pública e na melhoria do ambiente de negócios ¿ afinal, pouco poderá fazer sem parceria com a iniciativa privada. Ou ela toma hoje mesmo o bonde da história ou compromete um ciclo virtuoso iniciado ainda no governo Itamar Franco, com o Plano Real, e que teve sequência com FHC e o próprio Lula, cujas principais conquistas são a estabilização da economia e a responsabilidade fiscal. Reverter a curva da inflação é, pois, tarefa para a primeira hora, como também conter a gastança desenfreada à custa do erário. Sobre esse último ponto, observe-se que nem as manobras fiscais recentemente implementadas convencem analistas de que o governo cumprirá este ano a meta de superávit primário, economia que se faz para pagar os juros da dívida.

Fora as necessárias correções de rumo, é preciso ouvir a voz das ruas. Pesquisas de opinião pública apontam a saúde como área de pior desempenho do governo Lula. É paradoxal que a segunda maior reclamação do brasileiro seja a elevada carga de impostos. A grita é para o Estado parar de meter a mão no bolso do contribuinte e entregar os serviços que está a dever. Qualidade na educação, por exemplo ¿ o setor evoluiu quantitativamente, mas submete o Brasil a sucessivos vexames em avaliações internacionais. E segurança ¿ em especial, combate eficaz ao crime organizado, com o controle do tráfico de armas e drogas. Em suma, é seguir em frente rumo ao mundo desenvolvido.