Título: Analistas divergem sobre impacto na classe média
Autor: Costa, Raymundo e Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 19/07/2007, Especial, p. A9

A percepção de incapacidade do governo federal em apresentar soluções para a crise na aviação ficará mais forte para a população com o maior acidente da história aérea brasileira. O desgaste do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com a classe média será aprofundado e a população de mais baixa renda também poderá tornar-se mais crítica em relação a Lula. Essa é a análise do sociólogo Antônio Lavareda, presidente do Conselho Científico do Ipespe.

Para Lavareda, a crise no setor aéreo só não trará mais prejuízos ao governo porque está sendo amortecida pelos bons resultados do Brasil nos jogos Panamericanos. "Poucos viajam de avião e assim, o impacto das filas nos aeroportos e dos atrasos não é tão grande. Mas o desastre é capaz de comover toda a população. A crise vai ganhar maiores proporções." Segundo o sociólogo, é importante ver como a população vai distribuir a responsabilidade aos governantes. O primeiro movimento de Lula para tentar reverter os danos à imagem foi colocar a Polícia Federal, que tem boa avaliação da população, para trabalhar no caso do desastre com o avião da TAM.

0 impacto do acidente na imagem de Lula, entretanto, não é unanimidade entre os especialistas. A ausência do presidente no momento de consternação com o acidente pouco influi em sua imagem, avalia o presidente do Ibope, Carlos Augusto Montenegro. Ele lembra que a pesquisa mais recente do Ibope mostra Lula com avaliação muito boa, apesar da crise aérea. Montenegro avalia que se trata de uma tragédia sem ligação direta com o presidente. "Apenas 3% a 4% viajam de avião. São pessoas da classe média para alta". Na avaliação que fizemos do governo e de Lula levamos em conta toda a população e o presidente teve aceitação muito grande."

O especialista em pesquisas de opinião Rubens Figueiredo, diretor do Centro de Pesquisa, Análise e Comunicação, defende tese semelhante. Figueiredo acredita que o presidente se distanciará ainda mais da classe média, mas continuará preservado pelas classes mais baixas. "Ele tem uma aprovação incondicional nessas classes", diz. "Lula já passou por momentos piores, como na crise do mensalão, e conseguiu recuperar depois. O ruim é que essa aprovação não é só baseada em fatos, mas em uma certa idolatria", analisa.