Título: Ranhuras levarão mais de um mês para serem feitas
Autor: Manechini, Guilherme
Fonte: Valor Econômico, 19/07/2007, Especial, p. A11

Ainda que a Infraero decida de imediato iniciar o trabalho de confecção das ranhuras que auxiliariam na drenagem e maior aderência na pista principal do aeroporto de Congonhas, o processo não seria concluído em menos de um mês. Pela estimativa de uma das empresas cotadas para fazer o serviço para a empreiteira OAS, responsável pela reforma da pista, seriam necessários, no mínimo, 35 dias de trabalho para realizar as ranhuras, que são conhecidas tecnicamente no termo em inglês como "grooving".

"Este não é um serviço rápido, é necessário ter precisão na confecção das canaletas", afirma André Saraiva, sócio-diretor da Holemaker, especializada na confecção de ranhuras em pistas de aeroportos brasileiros. Pelo prazo inicial, com trabalhos apenas nas madrugadas, como previa a Infraero, a estimativa era que o trabalho durasse 55 dias.

Ainda que todos os 1,9 mil metros da pista principal de Congonhas ganhem as agora famosas ranhuras, não há garantia de segurança total. Mesmo com o "grooving", é possível a formação de uma lâmina d'água superior a três milímetros, o que torna possível que os pneus das aeronaves percam o atrito com o asfalto da pista.

Isso acontece quando a quantidade de chuva é excessiva. Com o "grooving", a tendência é que não se acumule água na pista, em caso de uma tradicional garoa paulistana ou mesmo uma chuva um pouco mais forte. "Estudos mostram que com as ranhuras há uma redução sensível do risco de aquaplanagem", diz André Saraiva, sócio-diretor da Holemaker.

A redução desse risco acontece por um processo simples. As ranhuras, que têm espessura e profundidade de seis milímetros e distância entre si de três centímetros, de acordo com normas internacionais, funcionam como um canal de escoamento para água acumulada. Do centro da pista até as bordas, há uma inclinação de 1,5 grau, para que a força da gravidade retire o acumulo de água.

Além da simples drenagem estática, o "grooving" também tem a função de auxiliar na dispersão da água no momento do pouso. Quando os pneus do avião tocam no solo encharcado exercem pressão sobre o líquido acumulado. Com as ranhuras, a água tem facilidade maior em se dispersar. "Ela basicamente encontra um caminho mais fácil para sair, sem as canaletas ela encontra mais dificuldade para se dispersar", afirma Saraiva.

O "grooving" é realizado por uma maquina específica. Ela pesa 1,6 tonelada e é equipada com 23 lâminas diamantadas em seu fundo. São essas lâminas que vão cortando o asfalto de forma progressiva, até que ele atinja, no ponto de borda, uma diferença de nível de 1,5 grau em relação ao centro da pista.

Para que isso seja possível, é preciso que esse asfalto esteja preparado para a operação. No caso de uma pavimentação recente, como na pista principal de Congonhas, os engenheiros necessitam esperar pelo que chamam de cura e oxidação do pavimento. Ou seja, que o asfalto esteja bem compactado, assentado e pronto para sofrer a intervenção de corte das canaletas.

Pelas estimativas da OAS, isso iria ocorrer nas próximas semanas. Mas ontem a Infraero deu sinais de que talvez não espere até o prazo final, estimado em 30 dias. De acordo com Armando Schneider, diretor de empreendimento e engenharia da estatal de infra-estrutura aeroportuária brasileira, um pedaço da pista será retirado e levado para análise para se saber se será possível ou não iniciar de imediato o "grooving". Em uma pista como a de Congonhas, o trabalho de confecção das ranhuras é orçado em cerca de R$ 1,2 milhão pela Holemaker.

As ranhuras, no entanto, não são a única medida para prevenir a aquaplanagem. No aeroporto Santos Dumont, localizado no centro da cidade do Rio de Janeiro, às margens da Baía de Guanabara, o processo utilizado foi outro. Lá os engenheiros optaram por utilizar uma camada de asfalto extremamente poroso, conhecido como PFC (porous friction course). Logo abaixo dessa manta, que se parece com uma esponja, é construído um asfalto compacto, também desnivelado do centro para as bordas. Com isso, a água é drenada internamente.