Título: Situação tranqüila a 95 km de São Paulo
Autor: Manechini, Guilherme
Fonte: Valor Econômico, 19/07/2007, Especial, p. A11

Se a situação ontem em Congonhas e Cumbica era confusa, no aeroporto internacional de Viracopos, em Campinas (SP), acontecia o oposto. Sem filas para o embarque, desembarque e nos balcões de check-in, o terminal havia recebido desde a noite de terça-feira até às 17 horas de ontem pelo menos 15 aeronaves remanejadas da capital paulista. Mas nem esse movimento extra altera o ar de sub-utilização de um aeroporto que poderia ser uma alternativa viável e de curto prazo aos outros aeroportos paulistas. Com capacidade para 2 milhões de passageiros por ano, em 2006 passaram por ele apenas 774 mil. No setor de cargas, Viracopos recebe, em média, 15 vôos diários.

Sem tumulto, os cerca de 1.150 passageiros desembarcados em Viracopos, que tinham São Paulo como destino, foram transportados na maioria dos casos em ônibus fretados pelas companhias aéreas ou de táxi. O fato de pousar a 95 quilômetros do centro da capital, no entanto, gerou opiniões distintas.

Para o diretor-geral da Camisaria Colombo, Nelson Kheirallah, que foi de Cuiabá até Campinas a bordo de um vôo da TAM, a alteração de itinerário aconteceu na hora errada. "Preferia descer em Congonhas. Tenho uma reunião e terei de ir de táxi até São Paulo", lamentou o executivo.

Ainda assustada com o acidente de terça-feira, a psicóloga Selma Roller Quintella declarou não ter tido dúvidas em optar pelo vôo da TAM com destino a Viracopos. "Minha passagem era de Brasília para Congonhas, mas devido à fila de aeronaves para pousar no aeroporto, a companhia abriu a possibilidade de mudarmos. A maioria dos passageiros topou a mudança na hora." E acrescentou: "Estávamos muito assustados em descer na pista auxiliar sob chuva."

Segundo ela, a aterrissagem foi tranqüila. "Não dá nem para comparar uma pista larga como esta com a de Congonhas", emendou. A extensão da pista de Viracopos é de 3,6 quilômetros. Para efeito de comparação, o aeroporto internacional de Guarulhos possui duas pistas, uma com 3 quilômetros e a outra com 3,7 quilômetros. Já a de Congonhas é de apenas 1,9 quilômetro.

A mesma sensação de alívio foi relatada por Juscelina Pinheiro de Souza e José Bartoldi. Para o casal que saiu de Cuiabá com destino a São Paulo justamente para participar do velório de uma sobrinha vítima do acidente com o vôo da TAM, "se a alteração foi por motivos de segurança, o melhor era vir para Viracopos mesmo", afirmou Juscelina ao relatar o motivo da viagem. "Viemos para o funeral de uma sobrinha que estava a bordo."

De acordo com a Infraero, foram registrados quatro atrasos superiores a uma hora até às 15h15 de ontem. Segundo a assessoria de imprensa do órgão responsável pelos aeroportos do país, não foi necessário reforçar a equipe para atender a demanda excedente.

Conforme apurou a reportagem do Valor, o terminal está com capacidade ociosa por opção das companhias aéreas. Um dos motivos seria o custo com a logística para transportar os passageiros até São Paulo. Outro seria a resistência dos clientes em comprar passagens para lá.

Atualmente, Viracopos realiza, em média, 30 pousos e decolagens por dia, enquanto que em Cumbica o número é de 450. O número de vôos diários é semelhante à capacidade que o aeroporto tem para atender as aeronaves simultaneamente. O terminal possui toda a infra-estrutura necessária para um eventual aumento de demanda. Tanto é que no atendimento aos passageiros que tinham São Paulo como destino, o que significou 50% de acréscimo no movimento diário, não houve problemas. Em pauta, mesmo com a capacidade ociosa, está a construção da segunda pista no local. Os investimentos são estimados em

R$ 500 milhões.

Lá, é possível encontrar quatro bancos, três restaurantes, uma livraria, correio, entre outros serviços. Claro, nada comparado ao aeroporto de Guarulhos, que conta com 400 empresas instaladas e mais de 23 mil funcionários. Viracopos emprega diretamente 1480 pessoas.