Título: Ciro busca reaproximação entre bloco de esquerda e PT
Autor: Lyra, Paulo de Tarso e Jayme, Thiago Vitale
Fonte: Valor Econômico, 19/07/2007, Política, p. A13

Cinco meses depois do rompimento provocado pela disputa pela Presidência da Câmara, em fevereiro, o presidente da Casa, Arlindo Chinaglia (PT-SP), e o bloco de esquerda formado por PCdoB, PSB, PDT e PV, ensaiam uma reaproximação. Chinaglia já foi a pelo menos dois jantares organizados pelo chamado "bloquinho". Em um deles, conversou longamente com seu adversário na disputa de fevereiro, o deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP). A retomada do diálogo não significa, contudo, que as feridas políticas estejam cicatrizadas.

O bloco de esquerda não cogita a hipótese de extinguir-se - está previsto um lançamento político do grupo em Porto Alegre, no Rio, em São Paulo e em Belo Horizonte no mês de agosto e, depois disso, nos outros estados brasileiros. No dia 20 de junho, foi apresentado um manifesto identificando os pontos que os unem. O PT de Chinaglia, embora busque uma reaproximação, mantém firme a aliança com o PMDB, que levou à derrota de Aldo.

O horizonte eleitoral também ajuda a manter as parcerias em suspense. Em 2010, sem a presença de Lula na sucessão, todos os partidos da coalizão sonham em lançar seus próprios candidatos. No bloco de esquerda, o nome que desponta é o de Ciro Gomes (PSB-CE). O PT divulga um leque enorme de opções, que vão de Jacques Wagner (governador da Bahia) à ministra do Turismo, Marta Suplicy, cuja possível candidatura perdeu fôlego, porém, após a sugestão de "relaxar e gozar", feita por ela aos prejudicados pela crise aérea. Até mesmo o PMDB, que sempre ficou a reboque de outros partidos, quer ser protagonista em 2010.

Mas, segundo analistas políticos experientes, os diálogos são importantes para viabilizar alianças em um eventual segundo turno.

Curiosamente, um dos artífices da reaproximação de Aldo e Chinaglia é o próprio Ciro, ajudado por Renildo Calheiros (PCdoB-SP). "Eu trabalho para isso. Não tem sentido a manutenção de obstáculos ao bom relacionamento entre nós e o PT", afirmou. Ciro acha que já é tempo de apagar as mágoas passadas e acredita que a eleição da presidência da Câmara foi marcada por erros de parte a parte.

Ele ressalta que a união das esquerdas é histórica e antecede à disputa pela Câmara. Logo, é essa parceria que deve ser retomada nesse momento. "Lembro quando vi Chinaglia e Aldo conversando, reservadamente, em um desses encontros. Cheguei para ambos e disse que era uma cena que eu esperava ter visto há mais tempo", afirmou Ciro.

Apesar dos discursos de separação eleitoral, há quem enxergue no diálogo uma possibilidade de parceria para 2010. O próprio empenho de Ciro nessa reaproximação teria esse intuito oculto. O deputado do PSB, que em 2002 chegou a estar à frente nas pesquisas de opinião, estaria buscando articular uma aliança com o PT, viabilizando seu nome e indicando um petista como vice.

Do lado do PT, essa questão é vista como mera fantasia. "Chinaglia está conversando com o bloquinho porque é presidente da Casa. O nosso futuro político passa pelo PMDB, que viabilizou a nossa vitória na Câmara", afirmou o deputado Cândido Vacarezza (PT-SP), um dos articuladores da aliança com os pemedebistas. "A esquerda pode até vir, mas o nosso eixo de conversas é com o PMDB", reforçou.

Aldo tem dito a interlocutores que o momento do bloco "é de portas abertas ao diálogo, e que não é conveniente, neste momento, ter um clima de animosidade entre os aliados do governo". Essa postura conciliadora refletiu-se no funcionamento do parlamento - a base aliada vem votando unida para defender os interesses do governo.

O presidente do PCdoB, Renato Rabelo (SP), considera natural que Chinaglia esteja aberto à reaproximação, já que ocupa um cargo chave na estrutura política da Câmara. "Por ser presidente da Casa, ele tem de conversar com todos os setores, todas as lideranças do Congresso." Rabelo afirma que tanto ele quanto Aldo não tem problemas sérios de relacionamento com Chinaglia.

O afastamento teria sido, segundo Rabelo, motivado por uma disputa política - o grupo contava com o apoio de Lula para reeleger Aldo, mas o PT pleiteou o direito de lançar candidato, exigiu neutralidade do presidente e acabou vencendo a disputa. "Mesmo em São Paulo, nosso relacionamento é bom", completou o presidente do PCdoB.

O PT mantém um discurso de superioridade e nega que o acirramento da crise de fevereiro tenha sido provocado pelo lançamento da candidatura de Chinaglia. Joga a culpa pelo distanciamento para os partidos do bloquinho. A avaliação é de que eles já estavam de olho em 2010 e buscaram, assim, enfraquecer o PT. "Foi um erro. Peitar o PT, no atual momento, é uma fria", avaliou uma importante liderança petista. O PT também nega que Chinaglia esteja buscando uma reaproximação após ter-se isolado como presidente da Casa. "Pelo contrário, só o PCdoB, PDT e PSB não conversavam com o Chinaglia. Todos os outros partidos sempre tiveram um ótimo diálogo com ele", completou um petista.

O PDT assegura que jamais rompeu com Chinaglia. "Conosco nunca houve problema, mesmo o PDT sendo um integrante do bloquinho", afirmou Paulo Pereira da Silva, o Paulinho (PDT-SP). "Chinaglia foi aos três eventos que eu convidei: um sobre a emenda 3, o Primeiro de Maio e um curso de capacitação para trabalhadores", enumerou. Um assessor do partido concorda. "Não há reaproximação, há estreitamento. Próximas as duas partes já são".