Título: Poluição na China é ameaça para economia
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Fonte: Valor Econômico, 19/07/2007, Internacional, p. A14

A fumaça asfixiante e os canais contaminados das cidades da China estão deixando muitas pessoas doentes e impedidas de trabalhar, fomentando distúrbios e ameaçando o crescimento econômico do país. A afirmação consta de um relatório encomendado pelo governo chinês à Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE). Ao concluir uma análise de 18 meses, a OCDE disse que o gravemente poluído meio ambiente chinês causa "danos significativos à saúde humana", prejudicando as perspectivas de expansão continuada do país.

"É claro que uma economia saudável precisa de um meio ambiente saudável", disse Mario Amano, vice-secretário-geral da OCDE, instituição sediada em Paris e que agrupa 30 países industrializados.

Ele disse que não dispõe de um número específico para o custo da poluição da China. O governo chinês informou, no ano passado, que a poluição custou ao país US$ 64 bilhões em perdas econômicas em 2004, cerca de 3% da economia do país naquele ano. O estudo não ofereceu números atualizados.

A urbanização veloz, a industrialização e o crescimento econômico verificados ao longo das quase duas décadas passadas resultaram em um ar, solo e água dos mais imundos do planeta.

O estudo da OCDE, que mencionou relatório anterior do Banco Mundial (Bird), disse que até 2020 a China terá 600 mil mortes prematuras ao ano em regiões urbanas e 20 milhões de casos de doenças respiratórias ao ano devido à poluição. O custo total dos danos à saúde equivalerá a 13% do PIB.

Um número estimado em 190 milhões de pessoas estaria sofrendo de doenças relacionadas com a poluição da água, e mais de 30 mil crianças morrem a cada ano vítimas de diarréia causada pela água contaminada, disse o relatório.

Lorents Lorentsen, diretor para Meio Ambiente da OCDE, disse que doenças relacionadas com a poluição afetam a produtividade, elevando os custos com saúde, e estimulam tensão social. Isso "não é bom para a economia", disse.

Amano e Lorentsen falaram numa coletiva que contou com a participação de Zhou Jian, vice-diretor da Administração Estatal de Proteção Ambiental da China (Aepa). Zhou disse que a China tentará colocar em prática as sugestões do relatório. A China não é membro da OCDE, porém o relatório foi preparado a seu pedido.

Agricultores de todo o país vêm protestando contra o fornecimento de água contaminada e as terras aráveis danificadas. Zhou Shengxian, diretor Aepa, admitiu a inquietação na semana passada, dizendo que a agência estava recebendo mais reclamações sobre o meio ambiente.

"Se você tem a reputação de ser um país poluído, sua marca registrada fica prejudicada no exterior. É muito difícil vender produtos farmacêuticos, vender alimentos e rações de um país com reputação de ser poluído", disse Lorentsen.

No mês passado, o órgão regulador de alimentos e medicamentos nos EUA, o FDA, impôs restrições sobre importações de frutos do mar cultivados, incluindo camarão, bagre, variedades de enguia e de carpa, depois de encontrarem resíduos de fármacos que os EUA não permitem no pescado.

O FDA declarou que amostras de peixe detectaram vestígios dos antibióticos, fungicidas e bactericidas. Mas as substâncias tóxicas não estavam ligadas à poluição e todas as importações proibidas eram criados em aquaculturas não silvestres. Mais da metade das exportações globais de frutos do mar da China são criadas em fazendas de peixes.

Os esforços da China "careciam de eficácia e efetividade", principalmente porque as normas existentes não estavam sendo cumpridas, particularmente no nível local, disse o relatório.

"As prioridades econômicas passaram por cima das preocupações ambientais", afirmou.

A OCDE recomendou que a China transforme a Administração Estatal de Proteção Ambiental em um organismo em nível de ministério para lhe conferir mais poder decisório no monitoramento e fiscalização do cumprimento das regulamentações ambientais.

O instituto também disse que o governo precisa ser mais transparente sobre os impactos sanitários da poluição e permitir maior "democracia ambiental", ou participação da sociedade civil, como grupos não-governamentais, na tarefa de limpar o país.

A limitada disponibilidade de informação sobre saúde ambiental "limita a capacidade das autoridades chinesas e dos cidadãos, de agir de formas preventivas ou curativas", disse o relatório.

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