Título: Setor de turismo já reduz estimativas para 2007
Autor: Landim, Raquel e Salgado, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 19/07/2007, Especial, p. A20

Às 19 horas de segunda-feira, vinte dos principais executivos do setor de turismo do país estavam reunidos na sede da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomercio). Representantes de hotéis, agências de viagens, locadoras de automóveis, feiras de negócios concluíram que precisavam exigir uma atitude imediata do governo federal para conter os prejuízos provocados pela crise aérea. Foi quando souberam do acidente com avião da TAM no aeroporto de Congonhas. "É uma perda incalculável para o nosso negócio", disse o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (Abih), Eraldo Alves da Cruz.

Com o acidente com o avião da Gol em setembro de 2006 e os atrasos e cancelamentos nos vôos provocados pelas greves dos controladores, os brasileiros estão evitando os aviões na hora de programar as férias. Em São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, as pessoas optam por destinos aos quais conseguem chegar em automóveis. As regiões Norte e Nordeste sofrem o maior prejuízo. As viagens a negócios, que representaram 67% das passagens aéreas vendidas no país em 2006, estão sustentando o setor.

É por causa delas que a movimentação total de passageiros não diminuiu no país neste período. O crescimento do fluxo, no entanto, tem sido mais modesto. No ano passado, 102,18 milhões de passageiros passaram pelos aeroportos brasileiros, alta de 6,4% sobre o ano anterior. Em 2005, no entanto, a expansão havia sido de 16%, o mesmo número verificado em 2004, na comparação com 2003.

Só neste ano, entre janeiro e maio, 45,86 milhões de pessoas viajaram de avião, o que representa incremento de 8,4%. No mesmo período do ano passado, essa elevação foi maior, de 13,5%.

Segundo o diretor de assuntos internacionais da Associação Brasileira das Agências de Viagem (Abav), Leonel Rossi Junior, as vendas de pacotes de viagem caíram 15% no primeiro semestre desse ano em relação a igual período de 2006. O setor esperava aumentar as vendas em 10%. "As pessoas preferem fazer turismo com seus veículos", diz o executivo, acrescentando que houve um aumento de 20% na ocupação da hotelaria de regiões turísticas do Sudeste. Ele acredita que, com o acidente da TAM, o cenário vai piorar.

O movimento nas estradas brasileiras tem crescido. A alta mais forte vem justamente dos veículos leves, de passeio. Pelos dados da Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias (ABCR), o fluxo desse tipo de veículo aumentou em 10,4% em junho, na comparação com o mesmo mês do ano passado. Já a quantidade de veículos pesados (caminhões) se expandiu em ritmo mais lento: 5,6%.

O presidente do Sindicato das Empresas de Turismo do Estado de São Paulo (Sindetur-SP), Eduardo Nascimento, diz que os hotéis das cidades próximas da capital paulista estão com mais hóspedes neste ano do que no ano passado. "Ninguém quer ficar horas em um aeroporto com a família. A solução são os destinos próximos da capital, como o litoral", diz.

Em contrapartida, as taxas de ocupação dos hotéis do Nordeste caíram entre 30% e 40% depois da crise aérea, conforme a Abih. "Não temos um feriado sem apagão de vôos", reclama o presidente da entidade. Além dos problemas com atrasos, o setor de hotelaria sofreu com a crise da Varig e o aumento dos cruzeiros marítimos. Em compensação, a ocupação dos hotéis próximos a Guarulhos subiu 8%, devido aos passageiros que perdem as conexões com os atrasos.

Mauro Scwhartzmann, presidente do Fórum das Agências de Viagens Especializadas em Contas Comerciais (FAVECC), estima que as viagens a negócios tenham crescido cerca de 30% entre janeiro e junho deste ano. "Por mais medo que se tenha de voar, as pessoas precisam cumprir agenda de reuniões e fechar negócios", explica o presidente. Mesmo após esse novo acidente com o Airbus da TAM, Scwhartzmann segue com a previsão de incremento de 30% nesse tipo de viagem em 2007.

Viviane Martins, presidente da Associação Brasileira de Gestores de Viagens Corporativas, reconhece que a movimentação no setor cresceu, porque os executivos são obrigados a viajar, mesmo em meio ao caos aéreo. "Nosso setor é impulsionado pelo crescimento da economia", diz. Ela ressalta, no entanto, que a expansão no setor poderia ser maior se a transporte aéreo funcionasse normalmente.

Nascimento, presidente da entidade que representa as empresas paulistas de turismo, é pessimista quanto ao futuro do seu setor. "Com mais um acidente, o cenário é pessimista e só deve piorar." Ele afirma que, em maio deste ano, a procura por viagens caiu 20% nas agências de turismo de São paulo em relação ao mesmo período de 2006. A expectativa da entidade, contudo, era de alta de 20%. Maio não foi um resultado isolado. Segundo Nascimento, a demanda está fraca desde o fim de 2006.

Por conta disso, o sindicato não espera mais que a procura por viagens cresça 15% neste ano. "Agora já projetamos queda de 20% em relação a 2006", explica. Nascimento diz que tem conversado com empresários do setor hoteleiro do Nordeste e que as taxas de ocupação dos hotéis estão baixas.