Título: GM investirá US$ 500 milhões na região
Autor: Capela, Maurício
Fonte: Valor Econômico, 19/07/2007, Empresas, p. B9

A maior montadora do mundo, a americana General Motors (GM), resolveu pisar no acelerador na América do Sul. Em meio a um cenário favorável na região, com vendas em alta tanto no Brasil, como na Argentina, a companhia anuncia investimentos de US$ 500 milhões, que serão usados no desenvolvimento e na fabricação de uma nova família de automóveis pequenos. As vendas no primeiro semestre deste ano da GM cresceram 18% no país e 16% na Argentina, comparadas a igual período de 2006.

Portador da novidade, Rick Wagoner, presidente mundial da GM, detalhou que, do total, US$ 100 milhões servirão para erguer um centro de engenharia, que terá um edifício anexo ao centro tecnológico instalado em São Caetano do Sul (SP), e também para melhorias no campo de provas de Cruz Alta em Indaiatuba (SP).

Mas a maior parte da montanha de recursos, ou seja, US$ 400 milhões, seguirá para a fábrica de Rosário na Argentina e para a operação brasileira de São Caetano do Sul. "Essa nova família de automóveis terá motores da unidade de São José dos Campos (SP)", conta Wagoner.

Ray Young, o presidente da GM no Brasil, explica que ainda é cedo para falar sobre o destino dos recursos. Mas adianta que, além de o projeto consumir entre dois e três anos para virar realidade, metade do investimento deverá seguir para Argentina e a outra metade irá para o Brasil. "Mas isso dependerá das negociações que temos com os governos desses países", diz Young, acrescentando que a produção também deverá obedecer a mesma lógica de divisão, ou seja, 50% a 50%.

O fato é que tanto o presidente global como o local da GM não esconderam que a meta é vender este novo automóvel nos mercados emergentes. Mas o que não revelaram é se essa nova família já roda em alguma parte do mundo. "É confidencial. Só posso adiantar que o projeto é competitivo em custo", diz Young.

Mas apesar do tom amistoso que marca qualquer investimento, o presidente da GM no Brasil não deixou de cutucar a questão cambial. Para o executivo, a valorização do real prejudica a competitividade no Brasil e revelou que a decisão por fabricar a nova família no país e na Argentina já funciona como uma proteção cambial natural.

Dono de um discurso em que reafirma o Brasil como produtor competente de automóveis para mercados emergentes, o presidente da GM no país explica que a filosofia dos centros de desenvolvimento da montadora mundo afora obedece a uma única lógica. Em outras palavras, metade dos recursos é usado em projetos globais e a outra parte em carros regionais. Hoje, a montadora tem ao redor de 2,9 mil pessoas dedicadas ao desenvolvimento de produtos e a meta é alcançar 3,3 mil até o ano que vem.

É bom que a montadora americana se arme em projetos para países emergentes. Além de serem mercados em franca expansão, esses países atraem cada vez mais a atenção das companhias chinesas. Mas segundo Rick Wagoner, o fato de a GM estar na China também vai ajudá-la a competir com esses grupos. "Os chineses vão chegar a uma produção de 8 milhões de unidades. E, além de crescerem anualmente 15% nos últimos anos, devem passar os EUA no futuro próximo", afirma Wagoner. A previsão é que a montadora americana em parceria com seus sócios alcance vendas superiores a 1 milhão de automóveis por lá.

O fato é que, apesar de enfrentar problemas nos Estados Unidos, principalmente com a forte concorrência da japonesa Toyota, a GM tem crescido na América Latina. E o seu incremento no continente levanta questões a respeito da criação de um terceiro turno nas fábricas, por exemplo, do Brasil. A companhia mantém uma unidade em São Caetano do Sul (SP), São José dos Campos (SP) e Gravataí (RS).

Mas o presidente da montadora no Brasil afirma que está descartada a hipótese de criação de um terceiro turno em 2007. E garante que somente vai considerar essa possibilidade em 2008. "Nós podemos produzir cada vez mais em dois turnos com pequenos ajustes e, portanto, não há necessidade de termos o custo de um terceiro turno", encerra Young.