Título: Custos com armazenagem recuam
Autor: Zanatta, Mauro e Bouças, Cibelle
Fonte: Valor Econômico, 19/07/2007, Agronegócios, p. B12

A maior utilização de recursos como Pepro e Prop tem ajudado o governo a economizar com o armazenamento. Isso porque, quando subsidia preços em vez de adquirir produtos, a armazenagem dos grãos fica a cargo das empresas ou de produtores. "De fato, o governo adotou novos instrumentos que custam menos para ele, mas que ajudam o produtor da mesma forma que a AGF", afirma Rosa Xavier, gerente de controle de estoques da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

De acordo com ela, com esses mecanismos, o governo passa a interferir menos no mercado. "O ajuste de preços é feito pelo mercado, tanto que os leilões de grãos feitos no último ano não trouxeram tanto efeito ao mercado, como em anos anteriores", observa Rosa. Conforme Luiz Campos de Almeida, da superintendência de armazenagem da Conab, a capacidade estática de armazenagem é hoje de 123,4 milhões de toneladas, distribuídas em 16,5 mil unidades armazenadoras. Dessa capacidade total, 23,5% têm contrato com a companhia. "E há muito estoque que não é público e divide esses armazéns com a Conab."

Pedro Arantes, analista da Federação da Agricultura de Goiás (Faeg) e pesquisador da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), diz que a mudança na concessão de crédito traz problemas aos agricultores no que se refere à armazenagem. "Antes o agricultor participava do leilão de AGF, entregava o grão ao governo e não tinha custos com armazenagem. Hoje a maioria dos armazéns está nas mãos das indústrias, e ele paga para fazer a estocagem enquanto negocia a safra". De acordo com levantamento da CNA, menos de 5% dos armazéns de Goiás são de produtores. No Mato Grosso, esse índice fica em torno de 10%.

Segundo Arantes, a maioria dos armazéns é antiga e encontra-se em regiões que hoje já não são dedicadas à produção de grãos, ou são administrados de forma arbitrária pelas indústrias. "Goiás tem capacidade estática de armazenagem de 11 milhões de toneladas, e a safra fica em torno disso. Mas, por exemplo, em Rio Verde e Acreúna existe ociosidade nos armazéns porque as indústrias não querem misturar soja com o milho safrinha", diz.

Muitos produtores, afirma Arantes, aproveitam o período de estiagem e estocam os grãos nas fazendas a céu aberto. "Isso porque a soja fora do armazém é vendida a R$ 30 por saca. Dentro do armazém, a indústria compra do produtor a R$ 25", observa. Para o pesquisador da CNA, a nova política favoreceu indústrias e governo, mas trouxe novos problemas aos agricultores. (CB)