Título: Plano prevê dobrar produção de carro
Autor: Safatle, Claudia e Leo, Sérgio
Fonte: Valor Econômico, 18/07/2007, Brasil, p. A3

O ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge, prepara um conjunto de medidas para aumentar a produção anual de automóveis e caminhões para 5 milhões de unidades, em cinco anos. Hoje a capacidade instalada é suficiente para produzir até 3,5 milhões de veículos e, neste ano, o setor deverá fabricar 2,8 milhões, superior às 2,61 milhões de unidades de 2005, o que aponta um esgotamento no médio prazo. Entre as medidas, estão previstas facilidades de financiamento do BNDES, que estenderia seu crédito também a projetos de engenharia dos veículos.

O ministro estima entre R$ 10 bilhões a R$ 12 bilhões os investimentos necessários até 2012 para ampliar a capacidade instalada do setor, incluindo a fabricação de autopeças, com novas plantas industriais. O BNDES financiaria apenas uma parcela desse total. As medidas vêm sendo discutidas com as empresas, com quem Jorge terá uma reunião em cerca de dez dias. Ele pretende submeter o plano ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva até o fim de agosto.

O investimento na engenharia de produção para lançar novos modelos é alto - em torno de R$ 80 milhões - e uma das demandas do setor é que o BNDES financie também essa área e não somente a instalação da fábrica. "Isso nunca se financiou; financia-se a fábrica, a construção, bens tangíveis", sublinha, ao endossar a demanda dos empresários. "É importante; a indústria automobilística avançou muito na questão da engenharia automotiva." Ele lembra que, até poucos anos atrás, só a Volkswagen desenvolvia projetos no país, algo que hoje é feito também por montadoras como a GM e a Fiat.

Na proposta em discussão com representantes das montadoras e de autopeças, os empresários têm insistido na necessidade de redução de impostos, sobretudo do IPI, e para a desoneração da folha de pagamentos, embora, neste caso, esta já seja uma medida em análise no Ministério da Fazenda, embora sem prazo para conclusão.

Em alguns modelos, o peso dos tributos chega a 40% do valor do veículo, e a redução de tributos é vista como uma contrapartida indispensável caso se concretize a redução de tarifas de importação no setor, nos acordos em negociação, como o que deve ser retomado entre o Mercosul e a União Européia. Os especialistas do governo prevêem que, na negociação com os europeus, as tarifas máximas do Mercosul, de 35%, como as aplicadas para os automóveis, poderão cair para abaixo de 25%, a depender das ofertas de abertura do mercado na Europa para produtos do Brasil e seus sócios no cone Sul.

As vendas das montadoras crescem mês a mês. O ministro diz que recebeu, nesta semana, do presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Jackson Schneider, informações de que as vendas de automóveis cresceram 25% nos primeiros seis meses do ano, em comparação ao mesmo período de 2006. "A última informação que eu tinha era de 22% de crescimento." O consumidor chega a esperar três meses para adquirir um veículo novo, embora as fábricas já estejam trabalhando em três turnos.

Como exemplo das iniciativas que começam a despontar nas indústrias, em resposta a esse aumento da demanda, o ministro citou os casos da Fiat, que não tem mais como ampliar a unidade de Betim e deve procurar outro local para construir uma nova planta, e da Toyota, que, embora não tenha tido contato com o governo, procura lugar para construir novas fábricas. "Já falaram com muita gente: estiveram em Pernambuco, Bahia e São Paulo."

Os sindicatos dos trabalhadores vão participar da discussão e têm reunião amanhã. Para ter acesso aos financiamentos do BNDES o ministro advoga que as empresas tenham metas de produção, de exportação e de criação de empregos. "O BNDES não vai financiar indústria que, por estar se modernizando, pretende demitir trabalhadores." O alvo do projeto do governo é dar às montadoras instaladas no país condições de competir com os automóveis da China, que devem começar a ser fabricados, em breve, no continente.