Título: Acidente em São Paulo foi o mais grave do país
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 18/07/2007, Brasil, p. A4

O acidente com o vôo 3054 da TAM, ontem à noite em São Paulo, foi o mais trágico da história do país. A bordo do vôo estavam 176 pessoas, sendo 170 passageiros (incluindo alguns funcionários da companhia aérea) e seis tripulantes. Outras dezenas de pessoas trabalhavam nos prédios atingidos pela aeronave. Em setembro do ano passado, 154 pessoas morreram no acidente com avião da Gol, no que era até então o maior desastre aéreo do país. Em outubro de 1996, em outro acidente na vizinhança de Congonhas, um Fokker 100 também da TAM caiu logo após decolar.

Ontem, a aeronave da TAM perdeu o controle no início da noite (18h50) enquanto realizava manobra de descida na pista do Aeroporto de Congonhas (zona sul da capital), atravessou a avenida Washington Luiz, localizada em frente ao aeroporto, e bateu contra um depósito da própria empresa (TAM Express) que fica do lado oposto da avenida. O choque provocou um incêndio de grandes proporções, e ao lado do prédio funcionava um posto de gasolina.

O corpo do avião foi totalmente destruído pelo fogo, só a cauda da aeronave se manteve intacta. O governador de São Paulo, José Serra, disse que as chances de sobreviventes entre os passageiros e a tripulação eram praticamente nulas. Segundo fontes da polícia, os corpos não estavam mutilados e sim carbonizados e irreconhecíveis. Isso indicaria que as mortes teriam sido causadas não pelo impacto da queda e da batida, mas pelo incêndio que se iniciou depois. Metade do posto de gasolina foi destruído e o avião entrou de lado no prédio da TAM Express. O avião abriu um buraco na parede lateral do edifício, mas boa parte da sua estrutura ainda permanecia intacta.

Até às 23h, pelo menos 14 corpos carbonizados foram retirados do local do acidente. O trabalho de resgate estava sendo dificultado porque havia risco de desabamento do prédio.

Dezenas de carros do Corpo de Bombeiros estavam no local para controlar as chamas, retirar pessoas de dentro do galpão da TAM Express - empresa de transporte de cargas - e do avião. O acidente obrigou a Infraero (estatal que administra os aeroportos do país) a suspender todos os vôos e decolagens do aeroporto, o que lotou suas dependências de passageiros que não conseguiam embarcar. Os pousos foram desviados para os aeroportos de Viracopos (Campinas) e Internacional de Guarulhos.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reuniu na noite de ontem com os ministros Waldir Píres (Defesa), Dilma Rousseff (Casa Civil), Franklin Martins (Comunicação) e Walfrido dos Mares Guia (Relações Institucionais) para discutir o acidente envolvendo o vôo 3054 da TAM na região do aeroporto de Congonhas, na zona sul de São Paulo.

O governador de São Paulo esteve no local do acidente, ontem à noite. José Serra afirmou que naquela hora as causas do acidente não eram conhecidas, e a preocupação do governo era dar assistência. "É um acontecimento muito trágico, muito triste", afirmou o governador. Ele disse que a polícia civil do Estado abrirá inquérito, fará uma investigação, e a aeronáutica fará a perícia. Falando sobre o Aeroporto de Congonhas, Serra afirmou que "a responsabilidade pela reforma é inteira da Infraero, federal, que deve se pronunciar" sobre o acidente.

A lista com o nome dos passageiros e da tripulação não havia sido divulgada pela TAM até às 22h30 de ontem. Uma das pessoas que estava a bordo do avião era o deputado Júlio Redecker (PSDB-RS), segundo sua assessoria. Os parentes dos passageiros estavam, na noite de ontem, no aeroporto de Porto Alegre esperando a divulgação da lista de passageiros. O vôo tinha como destino destino Brasília com escala em São Paulo.

Reinaldo José da Assunção, 37, funcionário da TAM Express, contou que estava no subsolo do prédio de três andares quando ouviu um estrondo e viu uma escada de concreto ruir. Correu e viu, entre o primeiro e o segundo andar, parte de uma aeronave em meio a uma bola de fogo. Assunção disse não ter visto ninguém saindo da aeronave. Com um colega que se feriu no rosto, Assunção conseguiu escapar. No prédio, segundo ele, trabalham cerca de cem pessoas, 24 horas por dia.

A acidente também envolveu pessoas e carros que passavam pelo local. O funcionário da empresa STF Vigilantes Luiz Santos, 36, disse que "nasceu de novo". Santos estava em um carro Gol, da companhia para a qual trabalha, que foi atingido parcialmente pelo avião da TAM. Santos e o outro funcionário que estavam no veículo nada sofreram, mas o carro teve a parte traseira destruída e os vidros estouraram. "Eu vi o avião vindo na minha direção. Ouvi o barulho da turbina. Quando vi, veio a explosão. Nasci de novo", afirmou Santos, casado e pai de dois filhos.

A Airbus informou que ontem mesmo já formava uma equipe de técnicos da sede, em Toulouse, que virão a São Paulo para ajudar nas investigações. (Agências noticiosas e Yan Boechat, de São Paulo)