Título: Argello é empossado sob ameaça de processo
Autor: Jayme, Thiago Vitale
Fonte: Valor Econômico, 18/07/2007, Política, p. A6
O suplente do ex-senador Joaquim Roriz (PMDB-DF), Gim Argello (PTB-DF), foi empossado ontem no plenário do Senado já sob cobranças fortes da oposição. O petebista é acusado de envolvimento em pelo menos cinco denúncias de corrupção e responde a processos judiciais. No minuto seguinte à sua leitura do juramento de posse, Gim já precisou ouvir duras palavras do líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM). O PSOL protocolou representação contra Gim no Conselho de Ética.
O tucano pediu a palavra e iniciou a leitura de uma longa ficha de acusações contra Gim. Ao final, exigiu um posicionamento do novo senador. "O senhor vai lidar comigo de maneira frontal. Vossa Excelência deveria se endereçar à tribuna e imediatamente responder a estas acusações para que nós pudéssemos, de uma vez por todas, reabilitar esse Senado que não pode permanecer com o juízo que dele fazem hoje lá fora", emendou Virgílio. E completou: "Não quero prejulgar. Quero explicações".
Argello pediu a palavra mas não subiu à tribuna para se defender. "Eu não gostaria de ser prejulgado e condenado antecipadamente. Oportunamente, demonstrarei tudo isso que o senhor colocou e mostrarei que não devo nada. Não tenho absolutamente culpa nenhuma nessa história. Vou procurar um a um os senadores", avisou Gim, antes de deixar o plenário do Senado.
Gim Argello é investigado pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJ-DFT). A Operação Aquarela, da Polícia Civil do DF, levanta suspeitas da participação de Gim em desvios de verba do Banco de Brasília.
O novo senador também responde a processo de desvios de recursos da Câmara Legislativa do DF na época em que presidia a instituição. As acusações apontam para R$ 1,7 milhão desviados.
O juiz Roberval Belinati, da 1ª Vara Criminal do Distrito Federal, responsável pelo processo resultante da Operação Aquarela, já avisou que enviará o processo ao Supremo Tribunal Federal (STF). Como senador, Gim desfruta de foro privilegiado.
Na semana passada, o corregedor do Senado, Romeu Tuma (DEM-SP), conversou com o juiz. "Ele disse que há comprometimento sério (de Gim). E que, se a Corregedoria do Senado abrir qualquer procedimento investigatório, encaminhará esses documentos para a Casa", disse.
Na manhã de ontem, antes de Gim tomar posse, a presidente do PSOL, a ex-senadora Heloísa Helena (AL), já adiantou que entraria com a representação contra o novo senador. "Ô, gentinha horrorosa que não dá sossego para a gente. Vamos ter de entrar com a representação. Temos de ficar o tempo todo acompanhando essa gentalha", disse.
À noite, quando protocolou a representação, Heloísa Helena manteve o tom. "O PSOL gostaria de estar apresentando as propostas que têm para o país, mas como todo dia há uma nova patifaria, somos obrigados a entrar com mais uma representação", afirmou.
Alguns senadores avaliaram que Gim cometeu grave erro político ao tomar posse ontem. Hoje, começa o recesso parlamentar. Ele poderia ter tomado posse durante as férias perante à Mesa Diretora, sem a necessidade de passar pelo constrangimento do confronto com a oposição e com a imprensa.
Aparentemente, Gim queria entrar no Senado "pela porta da frente". Dezenas de pessoas compareceram ao Senado para assistir sua posse. A galeria ficou cheia de parentes e amigos. Mulheres trajavam vestidos longos, como se participassem de uma sessão solene. Arthur Virgílio tratou de acabar com qualquer possibilidade de aplausos. Logo no início de sua fala, afirmou que a posse de suplentes "costumava ser um momento de alegria".
No plenário, antes de deixar o recinto, Gim cumprimentou todos os colegas. A conversa mais demorada foi com o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR). Os dois trocaram palavras ao pé-do-ouvido.