Título: Burocracia petista planeja abrir espaço a eleitos
Autor: Costa, Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 18/07/2007, Política, p. A8

O PT planeja criar uma nova instância partidária. Trata-se do Conselho Nacional dos Eleitos, cuja principal função seria a mediação entre a burocracia partidária e os eleitos para cargos majoritários e proporcionais do partido, como governadores e deputados e vereadores. O objetivo é evitar o "fogo amigo" que por mais de uma vez esteve na origem de crises ocorridas durante o governo Lula.

A proposta será discutida no 3º Congresso Nacional do PT, que se realiza em Brasília entre os dias 31 de agosto e 2 de setembro próximos, por iniciativa dos atuais dirigentes partidários que subscreveram a tese "Construindo um Novo Brasil".

Os petistas já reuniram cerca de 200 mil militantes na primeira etapa do congresso, a escolha dos delegados zonais e municipais, e agora começa a eleger os delegados estaduais.

"O PT, com mais este congresso, supera a visão de que poderia sucumbir à suas crises", disse o presidente do partido, Ricardo Berzoini (SP), em entrevista à página do partido. "Ao contrário, ele se revigora e cria condições para que a gente possa chegar em 2008 e 2010 com muito mais força não apenas eleitoral, mas com mais base social".

A criação do Conselho Nacional dos Eleitos é uma resposta do grupo que atualmente comanda o PT à constatação surgida com o partido no poder: os executivos, deputados e vereadores, uma vez eleitos, têm demandas que muitas vezes vão além das diretrizes partidárias. A necessidade de fazer alianças com siglas ideologicamente contrárias, para assegurar a governabilidade, é um dos exemplos mais citados.

"Trata-se de um mecanismo para estabelecer um vínculo entre o partido e os governantes eleitos pelo PT", diz o secretário nacional de comunicação Gleber Naime. Esse mecanismo é que estabeleceria os limites das concessões que os governantes poderiam exercer sem ferir as diretrizes partidárias.

"(O Conselho Nacional dos Eleitos) permitirá ao governante manter um grau de autonomia dentro de uma relação de diálogo com o partido", diz Gleber.

A tese "Construindo um Novo Brasil" é a mais conservadora, mas não a única a propor uma rediscussão das relações internas do PT. O governador do Piauí, Wellington Dias, por exemplo, propõe que seja mudada a forma de eleição dos 81 integrantes do Diretório Nacional para privilegiar a escolha de "representantes legitimados pelo povo".

Pela fórmula de Wellington Dias passariam a ter assento no Diretório Nacional representantes do presidente da República, governadores e prefeitos e seus vice, eleitos pelo PT, e os das bancadas do Senado, da Câmara e das Assembléias Legislativas e Câmaras de Vereadores. Os movimentos sociais também teriam direito a um representante. O presidente do partido continuaria sendo eleito diretamente, como é feito atualmente.

O mérito da proposta, segundo Dias, é reduzir ou até mesmo extinguir o poder das tendências do PT, que hoje também negociam com os executivos do partidos como se fossem legendas coligadas numa aliança. O projeto não agrada a direção partidária, que considera o sistema atual, chamado de PED (Processo de Eleição Direta), "uma conquista".

Para Gleber, é o crescimento do PT que leva o partido a enfrentar novos desafios, como as "necessidades de Estado" que levam os governantes do partido a ter de tomar decisões que nem sempre estão de acordo com as diretrizes programáticas. Mas isso não seria motivo para uma mudança como a proposta pelo governador Dias.

Apesar desses "novos desafios", diz, a regra deve ser a de que o "partido não pode ser tutelado por aqueles que elegeu. Isso é o padrão tradicional da política brasileira. Não é o padrão do PT". O mesmo serve em relação ao partido, segundo Gleber. Ou seja, o partido não deve tutelar o governo. A saída seria a criação do conselho. "Com a garantia de uma direção interna transparente, mudar o atual processo (PED) seria um retrocesso para o PT".