Título: Norte e Nordeste vivem ciclo de forte crescimento
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 18/07/2007, Opinião, p. A10

São animadoras as informações sobre o comportamento da economia nas regiões Norte e Nordeste neste ano. De forma geral, os indicadores dessas regiões estão sendo melhores do que a média nacional, como ocorre, por exemplo, no aumento do emprego industrial e nas vendas do comércio varejista. Nem seria preciso comentar que, diante do quadro de graves desigualdades sócio-econômicas nas diferentes regiões do Brasil, qualquer melhoria no cenário dos Estados mais pobres é mais do que bem-vinda, mas nunca é demais enfatizar que ainda estamos muito longe de um panorama mais homogêneo no país. E seria necessário perscrutar de maneira muito aprofundada para se garantir que essa fase terá efeitos mais duradouros sobre a economia nortista e nordestina.

Em parte, o crescimento mais acelerado do Norte e Nordeste está se dando como resultado das políticas sociais do governo federal, notadamente a ampliação do programa do Bolsa Família, que têm contribuído para o aumento na renda das famílias. Outra razão óbvia é a própria situação macroeconômica do país, mais estável, com inflação menor e taxas de juros reais mais baixas do que no passado - é esse cenário que está estimulando os investimentos no setor produtivo, inclusive fora do circuito tradicional do Sul e Sudeste.

De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgados na semana passada, são as regiões Norte e Nordeste, nas quais é maior a concentração de indústrias que fornecem para o mercado interno e são intensivas em mão-de-obra, que estão liderando o crescimento do emprego na indústria, pois nos cinco primeiros meses do ano o emprego nesse segmento econômico cresceu 2,6% e 2,4%, respectivamente, bem acima, portanto, da média nacional, que foi de 1,5%.

Como o Norte e o Nordeste concentram atividades industriais intensivas em mão-de-obra, como a fabricação de alimentos e bebidas e de produtos químicos, o ritmo de contratações supera o da produção. Já nos Estados do Sul e Sudeste, o cenário é oposto. O aumento da produção está vinculado aos segmentos de veículos e de máquinas, que empregam menos. Na média do Brasil, a produção aumentou 4,4% até maio, enquanto no Nordeste a alta foi de 1,9%. Esse padrão de crescimento do Nordeste - emprego mais forte e produção mais fraca em relação à média do país - difere do observado no mesmo período do ano passado, quando a produção crescia de forma vigorosa, mas o emprego estava em declínio.

A situação se inverteu em 2007 e o desempenho é explicado pela indústria de alimentos e bebidas que, sozinha, contribuiu com 1,71 ponto percentual no crescimento de 2,4% do Nordeste. Em termos percentuais, ela já elevou em 5,9% seu nível de ocupação neste ano. Outra ajuda veio do coque, refino de petróleo e álcool, que expandiram em 36,8% seu quadro de pessoal, respondendo por 0,91 ponto da taxa total da indústria. O consumo dessa região cresce muito nas faixas de renda mais baixas, o que beneficia os produtores locais. Isso porque o ganho de renda vai diretamente para a compra de alimentos.

Mesmo sem tanta ajuda dessas transferências, a indústria do Norte e do Centro-Oeste segue ritmo parecido ao da nordestina. Pelos dados do IBGE, que só são divulgados de forma agregada, o emprego nas duas regiões acumula alta de 2,6% entre janeiro e maio, na comparação com igual período do ano passado.

Nesta semana, o IBGE tornou públicas outras informações, desta vez sobre o desempenho do comércio varejista, que corroboram a avaliação sobre a economia nos Estados menos desenvolvidos da nação. Os maiores crescimentos de venda nesse segmento ocorreram fora do eixo Sul-Sudeste: Alagoas (25,0%); Mato Grosso (16,7%); Mato Grosso do Sul (15,3%); Sergipe (15,0%); Rondônia (14,8%). A exceção nessa lista foi a expansão ocorrida em São Paulo (com um aumento de 14,4%). Também a pesquisa ampliada, que inclui as vendas de automóveis e de materiais de construção, confirma a tendência, já que as maiores taxas de desempenho no volume de vendas ocorreram em Rondônia, Acre, Pará, Mato Grosso do Sul, e Roraima - todos com expansão superior a 20%.