Título: Goldman e Pactual criam banco
Autor: Vanessa Adachi
Fonte: Valor Econômico, 18/01/2005, Finanças, p. C1

No primeiro grande negócio fechado por um banco de investimentos estrangeiro no Brasil desde a compra do Garantia pelo Credit Suisse First Boston, em 1998, o americano Goldman Sachs comprará uma participação relevante do brasileiro Pactual. A transação, que deve ser anunciada dentro de duas semanas, criará um novo banco, avaliado em US$ 2 bilhões, que concentrará os negócios do Pactual como é hoje e do Goldman na América do Sul. As participações ainda não estão fechadas, e muitos detalhes estão em negociação, mas os americanos deverão ficar com 40% a 50% do novo negócio. Não haverá, portanto, venda do controle acionário da instituição brasileira.

Segundo fontes familiarizadas com as negociações, o Pactual foi avaliado em cerca de US$ 1,5 bilhão a US$ 1,6 bilhão. Isso equivaleria a cerca de duas vezes o seu capital consolidado - operações no Brasil e off shore. No país, o patrimônio líquido do Pactual é de R$ 545 milhões e a maior parte do capital está no exterior. Como as operações do banco brasileiro são substancialmente maiores no mercado local, o Goldman aportará na nova instituição os seus negócios sul-americanos - avaliados entre US$ 400 milhões e US$ 500 milhões - e ainda comprará uma parte do Pactual. O pagamento será feito basicamente em ações do banco americano. Se ficar com 50% do novo banco, o diferencial a ser pago em ações deve ficar em torno de US$ 500 milhões. Isso daria aos brasileiros uma participação acionária na casa de apenas 1% no Goldman Sachs, cujo valor de mercado está em US$ 51 bilhões. O Pactual não quis comentar o tema. A reportagem procurou o escritório do Goldman no Brasil e foi orientada a entrar em contato com uma porta-voz em Nova York. Ao saber do assunto, a porta-voz disse que não comentaria. A joint venture deve ser chamada de Goldman Sachs Pactual, se for adotado o mesmo critério usado em outras associações semelhantes firmadas pelo banco americano na China e na Austrália. Um acordo foi fechado entre os dois bancos no fim de semana, em longas negociações que vararam as madrugadas de sexta e sábado na casa de André Esteves, um dos sócios do Pactual, em São Paulo. Além dele, participaram os dois outros sócios do banco brasileiro, Gilberto Sayão e Antonio Carlos Porto. Os negociadores do Goldman foram Corrado Varoli, chefe para América Latina, e Ricardo Lacerda, diretor-geral no Brasil. O presidente do Goldman, segundo na hierarquia da instituição, Lloyd Blankfein, participou por telefone. As primeiras conversas começaram em agosto do ano passado, por iniciativa dos americanos. O acordo, fechado na tarde de domingo, prevê que a joint venture terá um comando compartilhado. Haverá um comitê de gestão integrado por Esteves, Sayão e Porto. Pelo lado do Goldman, os gestores serão Varoli, Lacerda e o economista brasileiro Paulo Leme. Ainda não está decidido se o novo banco terá um executivo principal. Caso isso ocorra, o eleito deverá ser André Esteves. No modelo atual, o Pactual não tem a figura do presidente. A composição acionária do Pactual é um grande mistério e não existem informações oficiais divulgadas a esse respeito. Segundo uma fonte, os três sócios principais detêm 100% do capital votante e 51% do capital total. As operações das duas instituições no país são muito complementares. O Pactual é forte em gestão de recursos, tesouraria e se destacou em 2004 na estruturação de ofertas de ações. Segundo um ranking da Bloomberg, foi o líder nesse segmento na América Latina em 2004, com 9 ofertas. Na América Latina, a presença maior do Goldman é na área de fusões e aquisições, na qual também foi líder em 2004, ao assessorar operações que totalizaram US$ 16,75 bilhões, segundo a Thomson Financial. (Colaborou Catherine Vieira, do Rio)