Título: Negociadores apostam em números intermediários para fechar acordos
Autor: Moreira, Assis
Fonte: Valor Econômico, 24/07/2007, Brasil, p. A2

Limite de subsídios agrícolas dos Estados Unidos em US$ 14,5 bilhões, de um lado, e coeficiente 21 ou 22 para cortar as tarifas industriais no Brasil e nos outros emergentes, o que dá redução média de 57%, de outro. Essas são cifras intermediárias ao que foi proposto pelos mediadores agrícola e industrial, e é nelas que importantes negociadores de países desenvolvidos apostam para um acordo na Rodada Doha, se isso vier a acontecer nos próximos meses.

O comissário de Comércio da União Européia (UE), Peter Mandelson, não escondeu ontem sua satisfação com as propostas que estão agora na mesa, ao fazer um relato aos ministros das Relações Exteriores do bloco. Estimou que mesmo o corte de tarifas agrícolas está dentro do que Bruxelas pode aceitar. Mas como qualquer bom negociador que quer pagar menos e ganhar mais, continuará a cobrar "duramente" por mais cortes nas tarifas industriais do Brasil, Índia e outros, aparentemente esperando contar com a contribuição de países como Chile, México e Colômbia, que já propuseram cortes maiores do que o Brasil e a Argentina dizem aceitar.

"Não há nenhuma razão para supor que o ponto de aterrissagem não se moverá mais em nosso favor, visto a emergência de grupo mais ambicioso e vocal entre os países em desenvolvimento", afirmou. "Mas a posição deles será determinada pela posição final dos EUA sobre subsídios agrícolas."

Segundo agências de notícias, só a Polônia e a Irlanda, altamente protecionistas, voltaram a acusar Mandelson de conceder demais em agricultura. Até a França, antes o mais duro crítico da UE, foi ligeiramente menos hostil desta vez.

Os irlandeses insistem que a UE não deve aceitar a proposta agrícola porque significa abrir o mercado comunitário para mais 500 mil toneladas de importação de carne bovina, quase tudo do Brasil, com tarifas baixas. O Brasil contesta a cifra. "Vamos ter ganhos, mas não está claro em quanto", diz Luiz Cláudio Carmona, do Ministério da Agricultura. Outros negociadores não têm dúvidas de que a cota para a carne brasileira vai levar os irlandeses a aumentar ainda mais a pressão para proibir a importação.

Quanto ao fato de os EUA negociarem sem a Autoridade para Promoção Comercial (TPA, na sigla em inglês), que expirou em fim de junho, negociadores dizem que só havia mesmo duas opções: parar a negociação ou continuar tentando um acordo ambicioso que coloque pressão sobre o Congresso americano. (AM)