Título: Brasil e Argentina disputam recursos da japonesa Nissan
Autor: Capela, Maurício
Fonte: Valor Econômico, 24/07/2007, Empresas, p. B8

Thomas Besson, o presidente da montadora japonesa Nissan no Mercosul, tem observado de perto o comportamento do mercado na região. Além de obviamente ser uma de suas atribuições, a observação, de fato, o ajudará a decidir os rumos do investimento recém-autorizado pela matriz e que também ganhou o sinal verde da fabricante de automóveis parceira, a francesa Renault, dona de 44,4% do capital da Nissan. À sua disposição, portanto, Besson tem US$ 150 milhões para investir entre a fábrica brasileira, instalada em São José dos Pinhais (PR), e a operação argentina de Córdoba.

"A decisão de aplicar esses recursos na região foi tomada em julho de 2006. E nossa intenção é alocá-los entre 2007 e 2009", conta o executivo ao Valor.

A julgar pelos últimos movimentos, a operação brasileira já anda na dianteira. Isso, porque dos US$ 150 milhões autorizados, a fábrica paranaense, que também produz modelos Renault, já recebeu US$ 25 milhões. E esses recursos vão servir para que a Nissan possa padronizar e nacionalizar peças dos seus mais recentes lançamentos no país: o Tiida e o Sentra. Os recursos também serão usados em treinamento e na exposição de marca. A operação de Córdoba não tem produção Nissan.

O Tiida, carro lançado este mês no país e que pretende concorrer com o Golf da Volkswagen e o Stilo da Fiat, e o Sentra, disponível no Brasil desde março de 2007, são peças-chave no fortalecimento da montadora japonesa no mercado brasileiro. Trazidos do México, os modelos servirão para que a Nissan consiga elevar sua participação de mercado, que hoje não ultrapassa 0,5%.

De acordo com dados de 2006, a montadora japonesa vendeu 5 mil veículos no Brasil, o que inclui a picape Frontier e o utilitário-esportivo X-Terra, ambos produzidos em São José dos Pinhais. Portanto, com esses lançamentos e mais três que deverão ocorrer nos próximos dois anos, a empresa espera aumentar em oito vezes a sua venda anual.

Thomas Besson sabe que alcançar essas 40 mil unidades de vendas por ano no Brasil em 2009 não é uma tarefa das mais fáceis. Além de bater a forte concorrência, tornar esse número realidade significará que a montadora japonesa deixará a fatia ínfima de 0,5% atual e atingirá algo como 2,8%, em 2009.

O fato é que, apesar do desenvolvimento de mercado ser uma variável das mais importantes, a Nissan não se baseará somente nele na hora de alocar os US$ 150 milhões. Segundo o presidente da montadora no Mercosul, aspectos logísticos e o tamanho do veículo a ser produzido também serão aspectos relevantes no momento da batida do martelo.

Na verdade, o que motiva a decisão de alocar recursos na região é a necessidade que a Nissan tem de se expandir geograficamente. Atualmente, a montadora possui duas fábricas no México, além de compartilhar produção no Brasil. Na Argentina, por ora, só há modelos Renault na linha de montagem. "Mas o fato de o Brasil ser um mercado de grande expansão também contribui para esse movimento", completa Besson.

O presidente da Nissan no Mercosul evita dar detalhes, mas admite que a companhia tem dois assuntos em pauta quando se refere às suas atividades no Brasil. O primeiro é construir uma nova fábrica por aqui e o segundo é transformar o país em plataforma de exportação.

A primeira, diz o executivo, é classificada como uma possibilidade, já que a meta é usar os ativos da região ao máximo. Já no que diz respeito às exportações, Besson é mais enfático. "O Brasil deveria assumir essa condição", diz. Ele só faz uma ponderação. Lembra que valorizações cambiais costumam emperrar projetos desse tipo.