Título: Opep retoma influencia na definição das cotações
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Fonte: Valor Econômico, 24/07/2007, Empresas, p. B9

Quando os preços do petróleo chegaram perto dos US$ 80 por barril, um ano atrás, especialistas atribuíram o fato ao "fator medo". A oferta de petróleo não estava baixa e os estoques aumentavam. Mas a produção estava a toda, deixando pouca capacidade sobressalente. Um furacão devastador no Golfo do México ou uma tempestade política envolvendo o Irã em tese criariam uma falta do produto. Quando nenhum dos temores se materializou e os estoques continuaram crescendo, o preço rapidamente recuou. Desta vez, porém, os fatos substituíram o medo: o mundo está consumindo mais petróleo do que está produzindo.

No terceiro trimestre do ano passado, quando os estoques começaram a subir, a Arábia Saudita começou a reduzir sua produção. Esses cortes foram formalizados, e ampliados, nos encontros subseqüentes da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep). Como resultado, os membros da Opep estão agora produzindo cerca de 1 milhão de barris de petróleo por dia a menos do que produziam a esta altura do ano passado.

Enquanto isso, a demanda mundial aumentou em mais de 1 milhão de barris/dia, para mais de 84 milhões de barris/dia. O resultado inevitável é a queda dos estoques num momento em que eles normalmente estariam aumentando. Desde 1999 os estoques vêm crescendo em média 840 mil barris/dia no segundo trimestre de cada ano, de acordo com Leo Drollas do Centre for Global Energy Studies. Este ano, porém, eles caíram 140 mil barris/dia.

Os investidores, temendo uma falta do produto mais para o fim do ano, estão puxando os preços. Em 16 de julho, um barril do petróleo tipo Brent atingiu US$ 78,40 - muito perto do recorde nominal estabelecido no ano passado. No mesmo dia, o Goldman Sachs publicou relatório afirmando que os preços poderão chegar a US$ 95 o barril mais para o fim do ano, a menos que a Opep abra as torneiras (notícias nesse sentido foram publicadas no fim de semana).

A Agência Internacional de Energia (AIE), uma agência reguladora dos países consumidores de petróleo, alertou que a oferta será apertada e os preços altos por vários anos. Mas essa perspectiva sombria repousa sobre algumas suposições otimistas. A AIE prevê que o consumo vai se acelerar este ano e no próximo, apesar dos preços altos. Esse cálculo presume que a economia mundial continuará crescendo bem, compensando o alto custo do petróleo bruto.

Os chefões da Opep supostamente compartilham da confiança da AIE. Não é interesse deles tirar o crescimento econômico dos trilhos ou destruir a demanda por seu produto. Se eles imaginarem que o preço está alto o suficiente para provocar dano real, fará sentido ampliar a produção. Ao contrário de 2006, eles têm capacidade sobressalente de 3 milhões de barris/dia. Mas essa suposição assume que o cartel seja mais previsível que a temporada de furacões ou a política do Oriente Médio.