Título: Odebrecht planeja investir na África
Autor: Scaramuzzo, Mônica
Fonte: Valor Econômico, 24/07/2007, Agronegócios, p. B13

Depois de anunciar com pompa e circunstância, há pouco mais de um mês, sua entrada no setor sucroalcooleiro, o grupo Odebrecht já se prepara para investir em usinas fora do país. Na mira, unidades produtoras na África e também na América Latina, com aportes previstos sobretudo na região do Caribe, em parceria com investidores locais.

A internacionalização é o caminho natural do grupo, que mantém tem projetos e obras de infra-estrutura em 16 países. A África foi escolhida porque a Odebrecht já explora no continente os segmentos de mineração e petróleo. "A África tem terra e sol, ingredientes importantes para a produção de cana-de-açúcar", afirma Eduardo Pereira de Carvalho, executivo responsável pela área institucional e estratégica da nova divisão de açúcar e álcool do conglomerado.

Segundo Carvalho, os países africanos também têm um importante mercado consumidor, sobretudo para o álcool. Além de serem beneficiados pelo acordo ACP (África, Caribe e Pacífico) com a União Européia (UE), que isenta de tarifas a entrada de açúcar e álcool desses países. No continente, a empresa atua em Angola, Moçambique e Djibuti.

A região do Caribe também está nos planos do grupo porque, ali, as companhias sucroalcooleiras têm acesso ao mercado americano para álcool e também para o açúcar na União Européia.

"O grupo deve aproveitar a infra-estrutura nos países onde já atua para firmar parcerias em açúcar e álcool. Essa parceira também poderá incluir investimentos em logística", afirma Clayton Miranda, CEO da divisão sucroalcooleira do grupo. "Estudamos parcerias com refinarias internacionais para a distribuição de açúcar", diz o executivo.

A nova divisão de açúcar e álcool do grupo Odebrecht, que deverá receber um nome próprio nas próximas semanas, também deverá abrir seu capital. Das empresas do grupo, a Braskem, divisão de petroquímica, já opera na bolsa. De acordo com Miranda, a abertura de capital é um projeto de médio a longo prazo.

No Brasil, considerado o principal mercado para o grupo, os planos de crescimento continuam ambiciosos. O Valor apurou que o grupo deverá fechar contrato com o empresário Alexandre Candido de Paula, sócio da Reebok Fitness, para a construção de uma usina de açúcar e álcool na região do Pontal do Paranapanema (SP). Essa região foi escolhida pela gigante para dar início ao seu pólo sucroalcooleiro. Nesta usina, os grupos deverão investir R$ 250 milhões, com a Odebrecht como acionista majoritária. Sobre essa parceria, contudo, tanto Carvalho como Miranda não comentaram a estratégia do grupo.

Os executivos confirmaram que os planos da Odebrecht são de investir R$ 5 bilhões nos próximos oito anos para se tornar uma das maiores produtoras de açúcar e álcool do Brasil, com processamento de cana acima de 40 milhões de toneladas anuais.

A região do Pontal é considerada estratégica para o grupo porque é uma das poucas áreas paulista onde a atividade canavieira ainda não foi totalmente explorada, explica Carvalho. "Nesta região deveremos ter um pólo produtivo da ordem de 15 milhões a 18 milhões de toneladas". Com a aquisição da usina Alcídia, em Teodoro Sampaio (SP), e a parceria com o empresário Alexandre Candido de Paula, a empresa poderá fazer novas aquisições na região e parcerias em projetos greenfield (construção).

O mix de produção das usinas do grupo no mercado doméstico deverá ser de 30% a 40% para a açúcar, com comercialização voltada para o mercado externo, e de 60% a 70% para o álcool, com as vendas focadas no mercado interno, afirma Miranda.