Título: Crescem os investimentos diretos
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 24/07/2007, Finanças, p. C1

O país vive uma nova onda de investimentos estrangeiros diretos (IED), mostram dados divulgados ontem pelo Banco Central, que registram o ingresso de US$ 10,318 bilhões só em junho. Especialistas afirmam que, ao contrário da década de 1990, quando foram majoritários os fluxos para serviços, sobretudo privatizações, agora os investimentos estão espalhados pelos diversos setores da economia, incluindo a indústria. Outra característica nova é que, entre os países de origem dos investimentos, aparecem alguns emergentes.

Os investimentos diretos chegaram a US$ 32,261 bilhões nos 12 meses encerrados em junho e, mantido o ritmo atual, deverão superar o volume recorde observado em 2000, quando somaram US$ 32,779 bilhões. Os dados parciais de julho, até o dia 23, indicam entrada de US$ 3 bilhões, e o BC prevê que, no mês, o volume suba para US$ 3,5 bilhões.

Os altos volumes se devem, em grande parte, ao extraordinário desempenho de junho, quando os ingressos de investimentos foram fortalecidos por três operações pontuais de grande porte. A mais importante delas foi a oferta pública feita pela ArcelorMittal, que chegou a US$ 5,4 bilhões, para comprar ações da Arcelor Brasil. Outros US$ 2 bilhões se referem à compra da Serasa pelo britânico Experian e também à compra pelo Deutsche Bank de uma participação minoritária em uma empresa não-financeira pertencente ao Unibanco.

Especialistas afirmam, entretanto, que, mesmo desconsiderando essas três operações, o fluxo de investimentos chega a US$ 3 bilhões. "É um valor nada desprezível", afirma Edgard Pereira, economista-chefe do Instituto de Estudos para o desenvolvimento Industrial (Iedi). "A perspectiva de crescimento da economia explica a alta dos investimentos."

Uma característica desse novo ciclo de investimentos é a retomada dos fluxos para a indústria. As estatísticas do BC mostram que 47% dos investimentos diretos brutos (sem considerar as saídas de investimentos) ocorridos no primeiro semestre foram para a indústria. Em 2001, dado mais antigo disponível, foi de 31%. Pereira identifica dois grandes setores industriais que atraem mais capitais. Um deles são as "commodities", voltadas sobretudo para o mercado externo. A metalurgia básica, com ingresso de US$ 6,170 bilhões, foi o principal setor, seguida de produtos químicos, com US$ 3,866 bilhões, e petróleo e álcool, com US$ 1,512 bilhão.

Mais recentemente, afirma o economista do Iedi, ganharam força os investimentos diretos em setores voltados para o mercado interno, como automóveis (US$ 541 milhões no primeiro semestre) e alimentos e bebidas (US$ 726 milhões), que foram puxados pela expansão do crédito e pelo aumento da renda real.

Até 2000, quando foi observado o pico dos investimentos diretos, os fluxos eram dirigidos sobretudo para serviços, com destaque para privatização - naquele ano, estrangeiros colocaram no país US$ 7,051 bilhões para comprar antigas empresas estatais. Os serviços ainda têm um peso importante. Mas o destaque não é mais a infra-estrutura, e sim o comércio, com US$ 2,835 bilhões no semestre.

Outro fato marcante na atual onda de investimentos é a maior presença, entre os países de origem do capital, de economias emergentes. "Os países emergentes estão registrando superávits em conta corrente - uma contrapartida aos déficits americanos-, permitindo que sobrem recursos para serem investidos em outros países", afirma o presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet), Luis Afonso Lima.

Por enquanto, os investimentos entre emergentes são sobretudo intra-regionais. Isso faz com que, afirma Lima, o México seja o principal emergente a investir no Brasil, com US$ 517 milhões no primeiro semestre. A Colômbia é outro país que aumentou investimentos, com um ingresso de US$ 169 milhões.

Lima lembra que, embora as boas perspectivas da economia tenham sido importantes para o aumento dos investimentos diretos, o fluxo mais forte não se deve apenas aos fundamentos do país. "Os investimentos diretos estão crescendo no mundo todo" afirma. O ciclo se deve ao forte crescimento mundial, baixas taxas de juros, altos lucros das empresas e expansão das operações de capital privado (private equity).

No ano passado, o país foi apenas o sétimo país emergente que mais atraiu investimentos diretos, segundo dados da Conferência das Nações Unidas para Comércio e Desenvolvimento Unctad). Ficaram na frente China, Hong Kong, Cingapura, Rússia, Turquia e México. Mas não deixa de ser notável o fato de o país atrair mais investimentos apesar da valorização do real, que encarece os ativos no Brasil. "Os investidores estão preocupados com a economia no longo prazo, e não com o câmbio de curto prazo", afirma Pereira.