Título: Empresas realocam vôos para o Rio e São José
Autor: Campassi, Roberta e Adachi, Vanessa
Fonte: Valor Econômico, 25/07/2007, Brasil, p. A4

As mudanças que serão impostas pelo governo em Congonhas já mobilizaram as companhias aéreas a buscar alternativas para o aeroporto mais movimentado do país. Segundo apurou o Valor, a Gol deverá transferir parte de seus vôos para o aeroporto de São José dos Campos, a cerca de 95 quilômetros da capital paulista e ainda pouco comentado como opção por ter uma capacidade de receber apenas 90 mil passageiros por ano. A transferência de vôos domésticos para o aeroporto internacional de Guarulhos-SP é certa, embora ainda não exista uma estimativa precisa sobre o tamanho dessa migração. Do lado internacional, a TAM já estuda transferir seus novos vôos para o aeroporto Tom Jobim (Galeão), no Rio de Janeiro.

Ontem, a Gol afirmou em nota que apresentará uma nova malha aérea no próximo dia 30 de julho, em que parte dos vôos será transferida para Guarulhos. A companhia fez um apelo inusitado aos clientes para que eles adiem suas viagens até a próxima semana. O objetivo é aliviar os vôos nos próximos dias para que os passageiros que até agora ficaram retidos nos aeroportos sejam realocados. "A crise que envolve a indústria da aviação no Brasil tem gerado atrasos e transtornos inaceitáveis", afirmou a Gol por escrito.

O aeroporto de São José dos Campos, batizado de Professor Urbano Ernesto Stumpf, é visto pela companhia como uma alternativa para a migração de tráfego que substituiu Viracopos (Campinas-SP), localizado também a 95 quilômetros da capital. Atualmente, a pista de 3 mil metros tem capacidade para receber aeronaves de maior porte, como o Boeing 737 e o Fokker 100, utilizados respectivamente por Gol e TAM. No entanto, o aeroporto tem capacidade para receber apenas 90 mil passageiros por ano, enquanto Viracopos pode receber até 650 mil. Congonhas recebe 18 milhões por ano.

A TAM disse ontem que as medidas anunciadas pelo governo em resolução do Conselho Nacional de Aviação Civil (Conac) ainda não são claras o suficiente para que a empresa visualize como ficará a malha aérea. A companhia realizou teleconferência com analistas e investidores para tratar das mudanças anunciadas pelo governo. Segundo o vice-presidente financeiro da TAM, os vôos de e para localidades que estão distantes a no máximo duas horas da capital respondem por 35% das receitas totais da TAM, incluindo a ponta aérea Rio-São Paulo, que sozinha equivale a 10% do faturamento.

Segundo Barroso, haverá diminuição da "conectividade" da malha da empresa. A redução das possibilidades de conexão e de escalas terá impacto no número de horas voadas pelos aviões da TAM, o que vai gerar reflexo nos custos, na oferta de assentos e, possivelmente, nas taxas de ocupação dos aviões. "Dado o novo cenário, vamos ter que fazer uma projeção da ocupação e então reavaliar o nosso plano de frota", disse Líbano.

O impacto a ser calculado vai determinar se TAM vai reduzir o número de aviões que pretende incorporar nos próximos anos e assim evitar um descompasso entre oferta e demanda. Entre 2007 e 2008, a companhia pretende ter mais 28 aviões, alcançando frota de 123 aviões ao fim do período. Mesmo com a crise, a TAM manteve a previsão de que o mercado aéreo crescerá entre 10% e 15% este ano. Barroso disse que a taxa de ocupação em julho está em 75% em vôos domésticos e internacionais. Em julho de 2006, a taxa foi de 81% no setor doméstico.

Entre outras coisas, a resolução do Conac poderá limitar o número de vôos internacionais que saem de São Paulo. Barroso afirmou que a TAM entende que deverá operar seus novos vôos a partir de aeroportos como o Tom Jobim, no Rio, e não a partir de Guarulhos. Recentemente, a TAM recebeu autorização para voar a Madri e Frankfurt e pretende inaugurar as rota até o fim do ano. A Gol afirmou, por meio de assessoria de imprensa, que ainda não está clara a interpretação sobre a possibilidade de que novos vôos ao exterior sejam impedidos de sair de São Paulo. A empresa pretende iniciar seis novas rotas internacionais por meio da Varig até novembro.

As empresas não se manifestaram sobre o possível aumento de custos e prejuízos gerados com os recentes cancelamentos e atrasos. Elas devem se reunir nos próximos dias no Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias (Snea) para avaliar o impacto das medidas anunciadas pelo governo federal. Na avaliação de José de Anchieta Hélcias, secretário-executivo do Snea e representante da TAM, projeção preliminar feita com base em dados que já recebeu de algumas companhias indica que elas teriam perda de receita de 30% com a redução dos vôos de Congonhas, o que impactaria diretamente o preço das passagens. Analistas de mercado ouvidos pelo Valor, por outro lado, afirmaram que ainda não é possível estimar as perdas.

Hélcias acredita que os aeroportos de Guarulhos e Viracopos não vão absorver todo o tráfego de Congonhas, o que poderá levar a queda de receita e demissões. Para a presidente do Sindicato Nacional dos Aeronautas, Graziella Baggio, a hipótese de redução de mão-de-obra é precipitada.