Título: Tensão pré-Copom dispara juro futuro
Autor: Luiz Sérgio Guimarães
Fonte: Valor Econômico, 18/01/2005, Finanças, p. C2

Na véspera do início da primeira reunião do ano do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, o mercado futuro de juros da BM&F acentuou ontem a curva de alta das projeções de CDI. Não ocorreu simplesmente uma elevação generalizada dos contratos para os próximos meses. As estimativas subiram de forma progressiva: os contratos com vencimento distante avançaram mais que os curtos. O prognóstico para a virada do mês evolui 0,05 ponto, de 18,02% para 18,07%. E a expectativa para a virada do ano subiu 0,15 ponto, de 18,21% para 18,36%. O DI futuro sobe continuamente até outubro. Só a partir do último trimestre do ano é que vislumbra a possibilidade de recuo da Selic. Os vigorosos ajustes feitos ontem no mercado futuro sinalizam para a persistência do aperto monetário iniciado pelo Copom em setembro. Para a reunião desta semana, a perspectiva de uma alta de meio ponto percentual, com a Selic subindo de 17,75% para 18,25%, está consolidada, tanto que o contrato mais curto foi dos menos negociados. Mas já há quem suponha que o Copom pode elevar a Selic direto para 18,50%. Daria um susto no mercado destinado a forçá-lo a reduzir suas expectativas de IPCA.

O que está sendo corrigido é o excesso de otimismo anterior. Uma parte das instituições fechou operações supondo que o ciclo de aperto monetário se esgotaria com a alta de janeiro. A Selic seria congelada ou em 18% ou em 18,25%. Desde ontem a hipótese mais admitida e incentivada é a de que novas altas virão. Não há mais um sinal vermelho na trilha de alta. Uma série de fatores deixou o mercado mais pessimista. O principal persiste o IPCA de dezembro levemente acima das expectativas. Mas outros surgiram ao longo do fim de semana e ontem. Entrevistas individuais concedidas pelo presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e pelo ministro da Fazenda, Antonio Palocci, desencadearam a suspeita geral de que não há a intenção de suspender tão cedo o processo de alta do juro. O fato negativo de ontem foi a elevação das projeções de IPCA para este ano contidas no boletim Focus do BC. O que foi divulgado ontem informa que a mediana das opiniões das cem instituições pesquisadas voltou ao degrau de 5,70% em que estava na consulta feita na última semana de dezembro. Na primeira de janeiro, o mercado havia reduzido a estimativa para 5,67%. O pessimismo do mercado é auto-referente, alimenta-se a si mesmo. Quando ocorre uma elevação de juro futuro, derivada de uma projeção mais alta de IPCA, supõe-se que o encarecimento do dinheiro irá provocar, na pesquisa seguinte, uma diminuição dos temores inflacionárias. Não é isso que vem ocorrendo. As declarações oficiais atuam para reforçar o negativismo geral. Se a intenção do BC é de elevar o juro real projetado para 12 meses - a taxa mais vista por empresários e consumidores na hora de decidir investimento e consumo - para a casa de 12% ao ano, e mantê-lo nesse nível por bom tempo, está muito perto de atingir seu objetivo. Ontem, a taxa real para um ano avançou para 11,97%. E não deve cair dado o viés pessimista das instituições. Sem o referencial básico externo - os mercados financeiros dos EUA não funcionaram ontem devido ao feriado de Martin Luther King -, o dólar trabalhou ontem sem liquidez. A moeda fechou cotada a R$ 2,7010, em baixa de 0,03%. O risco-país quase não oscilou, variando de 432 a 433 pontos-base, ante 432 na sexta-feira. A Bovespa caiu 1,64%, com movimento de R$ 1,32 bilhão.