Título: Atualização tecnológica e de segurança exige até R$ 10 bi
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 25/07/2007, Brasil, p. A10

O governo precisa investir entre R$ 6 bilhões e R$ 10 bilhões para fazer uma atualização tecnológica dos equipamentos de comunicação, navegabilidade e tráfego aéreo. A estimativa também leva em conta reformas de pistas com mais de meio século de idade, construídas em parceria com os americanos durante a Segunda Guerra Mundial, como nos aeroportos de Natal, Fortaleza, Recife e Belém, segundo o brigadeiro Adyr da Silva, ex-presidente da Infraero, ex-diretor do Centro Tecnológico Aeroespacial (CTA) e atualmente professor do Centro de Formação de Recursos Humanos em Transportes da Universidade de Brasília (UnB).

Ele recomenda tais investimentos em um período de dois a três anos, "mas tudo depende da velocidade que se quiser dar a essa atualização tecnológica". Ontem a Aeronáutica anunciou a aquisição de novos equipamentos para auxiliar no pouso de aeronaves em condições de baixa visibilidade, como neblina forte.

O brigadeiro Adyr da Silva defende também a criação de áreas de segurança, entre 60 e 200 metros, em aeroportos com pistas curtas, como Congonhas. Nessas áreas podem ser implantados "tapetes de contenção", com material de forte atrito, para segurar aviões em pouso que não consigam frear até o fim das pistas.

Segundo a Ifalpa, Federação Internacional de Pilotos de Companhias Aéreas, materiais como concreto triturado e areia grossa podem ser usados nos tapetes de contenção - tradução livre para os "arrestor beds", adotados em aeroportos como JFK, em Nova York, e London City, em Londres.

Adyr da Silva lembra que, em 1998, o Brasil promoveu e sediou uma conferência internacional para planejar a introdução de satélites para uso aeronáutico - o sistema CNS/ATM. Esse sistema deve começar a ser implantado até 2010 e fará o controle de tráfego via satélite, complementando o trabalho dos radares. O efeito sobre a segurança é relevante: acabarão os chamados "pontos cegos" na Amazônia e sobre o Oceano Atlântico. "Infelizmente, estamos a três anos do prazo planejado e quase nada foi feito."

Hoje professor da UnB, o brigadeiro reformado argumenta ainda que é necessário readeaquar pistas sobrecarregadas por mais de meio século de uso. Muitas, nas capitais do Norte e Nordeste, foram construídas na década de 1940, em plena Segunda Guerra Mundial. Pouquíssimas têm asfalto poroso, que aumenta a aderência dos pneus ao solo, como no Santos Dumont, no Rio.

Outro especialista, o comandante Célio Eugênio, assessor de segurança de vôo do Sindicato Nacional dos Aeronautas, aponta como um dos principais problemas para os pilotos a inexistência de equipamentos modernos para auxílio ao pouso. Ele se refere ao Instrument Landing System (ILS), que tem três categorias, enumeradas conforme o grau de avanço tecnológico, e ajuda os pilotos a pousar em condições meteorológicas adversas.

Embora a principal finalidade do ILS seja auxiliar as operações sob neblina forte, quanto mais avançado for o instrumento, maior é a facilidade do piloto para alinhar o avião à pista do aeroporto. Em adversidades climáticas, o ILS-1 permite pousar com "teto" de 60 metros e visibilidade horizontal de 800 metros. Ou seja, esse é o raio de visão que o piloto precisa ter para pousar a aeronave com segurança. Custa aproximadamente R$ 2 milhões.

O ILS-2 diminui o teto mínimo para 30 metros e a visibilidade horizontal para 200 metros. Tem preço estimado em R$ 3 milhões. O ILS-3, cujo preço sobe cerca de 50% em relação ao ILS-2, tem duas variações: o ILS-3A requer teto de 15 metros e visibilidade de 60 metros. Na categoria ILS-3B, o pouso pode ocorrer sem visibilidade, dizem especialistas.

No Brasil não existem aparelhos ILS da terceira geração. O ILS-2 está presente em apenas três aeroportos, segundo a Aeronáutica: Guarulhos, Galeão e Curitiba. Os demais aeroportos de grande porte têm ILS-1. Mas alguns sequer contam com o instrumento. "Vitória e Aracaju ainda operam com VOR, que é uma tecnologia anterior ao ILS", afirma Célio Eugênio. "É inadmissível que um aeroporto internacional do porte de Guarulhos não tenha ILS-3."

O chefe do Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea) da Aeronáutica, brigadeiro Ramon Cardoso, disse que a FAB comprará instrumentos de terceira geração para quatro aeroportos: Guarulhos, Galeão, Curitiba e Porto Alegre. Em Brasília, será instalado o ILS-2, saltando um grau no equipamento disponível atualmente. Cardoso afirmou que o Decea já tem recursos para adquirir os novos instrumentos e "os prazos de implantação vão ser estabelecidos depois que tivermos uma análise completa". "Os estudos para essas modificações estão sendo feitos."

Alguns especialistas afirmam que o investimento pode ser alto, com as mudanças necessárias no nível de iluminação da pista. Os pilotos também precisam de treinamento adicional para operar com o ILS-3.