Título: China inicia projeto de construção de usinas nucleares
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Fonte: Valor Econômico, 25/07/2007, Internacional, p. A14

A China assinou ontem com a Westinghouse Electric um contrato de US$ 8 bilhões para a construção de quatro reatores nucleares. O programa nuclear chinês pretende construir 30 novos reatores nos próximos 15 anos, com ajuda estrangeira, e desenvolver tecnologia própria, para reduzir a dependência do país em relação ao carvão e ao petróleo, suas duas principais matrizes energéticas.

Os chineses estimam que terão de dobrar sua capacidade de produção de energia a cada dez anos, para acompanhar o aumento da demanda. Atualmente, sua capacidade instalada é a segunda maior do mundo, com 385 gigawatts - a maior capacidade mundial hoje ainda é dos EUA. Apenas 2% da energia chinesa vêm dos dez reatores que estão em operação no país - na França, 75% da energia têm origem nuclear; no Japão, 25%.

Há cerca de 440 reatores nucleares em operação hoje em todo o mundo, sendo 103 deles nos EUA. Até 2050, a China planeja ter 150 gigawatts produzidos por reatores nucleares, o equivalente a 150 reatores.

"Os contratos definitivos assinados levarão à primeira exportação de tecnologia nuclear avançada americana para a China", disse o CEO da Westinghouse, Steve Tritch, em Pequim.

A construção deve começar em 2009, com o primeiro reator entrando em operação em 2013 - os três outros devem começar a funcionar nos dois anos seguintes. Cada reator terá a capacidade de geração de 1,1 gigawatt. Segundo a Westinghouse, a tecnologia desses reatores é a mesma usada em cerca de metade das usinas nucleares em operação no mundo.

A empresa, baseada nos EUA, mas que é controlada pela japonesa Toshiba, não deu detalhes sobre os termos financeiros. Disse apenas que o contrato significaria 5 mil novos empregos nos EUA.

Esse é um dos aspectos importantes do acordo - a geração de empregos nos EUA -, num momento em que Pequim sofre pressões de Washington para permitir a valorização de sua moeda, o yuan, e para reduzir seu superávit comercial. Políticos e empresários americanos dizem que a subvalorização da moeda chinesa criaria uma vantagem artificial para os produtos do país e seria uma das causas da perda de empregos em território americano.

Além do contrato com a Westinghouse , Pequim discretamente já fez pré-acordos com a estatal francesa Areva para a construção de dois outros reatores, no sul do país, num contrato preliminar que chega a US$ 5 bilhões. A China também está em negociações com a Rússia para a possível construção de uma usina pela Atom-StroyExport. "Grandes negócios de centrais nucleares têm mais elementos políticos que econômicos", disse um especialista destacado da indústria chinesa que pediu para não ser identificado.

Esses negócios colocam a China na linha de frente da tendência global de aumentar o uso da energia atômica, considerada por muitos países como a solução mais limpa e barata atualmente.

Entretanto temores quanto à segurança da produção de energia nuclear reapareceram depois que um terremoto atingiu o Japão na semana passada, causando vazamento de água contaminada com radioatividade da maior usina nuclear do mundo.

Mesmo assim, as autoridades chinesas consideram uma prioridade o desenvolvimento de um reator nuclear com tecnologia nacional, que poderia ser usado como produto de exportação - o que vem criando temores nos países ocidentais.