Título: Vitória da Índia sobre inflação pode ser efêmera
Autor: Mukherjee, Andy
Fonte: Valor Econômico, 25/07/2007, Opinião, p. A17

Com a inflação na Índia mantendo-se próxima de seu ponto mais baixo em 13 meses, de cerca de 4,3% por cento, os títulos do governo estão se recuperando vigorosamente: os operadores do mercado avaliam que não existe nenhum motivo para o banco central do país elevar as taxas de juros no seu próximo comunicado de política monetária, em 31 de julho.

Embora esta possa ser a aposta certa, a enxurrada de dinheiro que a autoridade monetária vem permitindo jorrar no sistema bancário eleva o risco de que a vitória sobre a inflação seja efêmera.

A mediana da taxa de juro overnight interbancário do mês foi de apenas 0,5 por cento. Para ser considerada "normal", a taxa de juros à vista deve se situar dentro do corredor de juros referencial do banco central. Ela não está nem perto. O piso da banda está fixado atualmente em 6 por cento e o teto, em 7,75 por cento.

O aumento de US$ 14 bilhões ocorrido nas reservas cambiais do Reserve Bank da Índia (RBI) desde o fim de maio parece indicar que o banco central acrescentou recursos em rúpias ao sistema bancário. Ao mesmo tempo, a instituição pouco fez para enxugar o excesso de liquidez. Os bancos não foram obrigados a colocar mais dinheiro de lado como saldo de caixa junto ao banco central desde o aumento de um quarto de ponto percentual ocorrido na taxa de reservas em 28 de abril.

O Reserve Bank rotineiramente vem retirando 30 bilhões de rúpias (US$ 745 milhões) do sistema bancário, captando o excedente de caixa por um dia a 6 por cento. Os bancos detêm muito mais caixa ocioso, porém o banco central se recusou a aumentar o limite auto-imposto sobre o montante que deverá absorver de forma temporária.

A autoridade tampouco parece estar muito disposta a enxugar a liquidez numa base mais permanente. O banco central só está vendendo 45 bilhões de rúpias em títulos da dívida e notas nesta semana, menos da metade da soma da semana passada. Tudo isso indica uma acomodação deliberada às fáceis condições de liquidez, mesmo quando a posição declarada da política monetária é colocar o controle da inflação acima de todos os demais objetivos.

O Reserve Bank elevou as taxas de juros sete vezes desde outubro de 2005. Consequentemente, o ritmo de crescimento do crédito nos bancos comerciais desacelerou para um nível anual de 24%, após haver atingido um recorde de 36% em setembro de 2005. As vendas de carros também começaram a desacelerar, indicando um pouso suave em curso na economia mais ampla, segundo o economista Chetan Ahya do Morgan Stanley.

Para a maioria dos bancos, as contas individuais - hipotecas, cartões de crédito e empréstimos pessoais - respondem por quase metade de todos os empréstimos, parte dos quais está ficando atrasada devido aos altos custos da tomada de crédito.

-------------------------------------------------------------------------------- Com suas margens pressionadas pelo aumento na provisão para créditos irrecuperáveis, os bancos na Índia começarão a reduzir as taxas de empréstimo --------------------------------------------------------------------------------

As ações do ICIC Bank, segunda maior instituição de crédito do país pelo critério de ativos, registraram queda na segunda-feira, após este ter anunciado um aumento nos ativos irrecuperáveis brutos, para 60 bilhões de rúpias no trimestre encerrado em 30 de junho, representando um salto de 25% na comparação com o trimestre anterior. No momento em que suas margens vêm sendo pressionadas pelo aumento na provisão para créditos irrecuperáveis, os bancos na Índia aproveitarão a primeira oportunidade que tiverem para começar a reduzir as taxas de empréstimo.

O excesso de liquidez do sistema bancário, caso sua permanência seja permitida, poderá lhes fornecer exatamente esta desculpa. Essa redução, por sua vez, estimulará novamente a expansão do crédito; o crescimento econômico e a inflação poderão voltar a se acelerar.

"O RBI está atrás na curva", escreveram Kavita Rahalkar e outros analistas do Derivium Capital & Securities de Bombaim, em boletim de análise recente. "Ao não demonstrar qualquer sinal de emergência para esterilizar o excesso de liquidez, o sistema agora corre o risco de qualquer esterilização futura também se tornar ineficaz".

Se a idéia por trás da manutenção de uma liquidez mais do que ampla foi gerar excesso de oferta de moeda local e interromper o seu ritmo de valorização, então a estratégia não parece estar funcionando muito bem. A rúpia indiana subiu para 40,29 contra o dólar na segunda-feira, atingindo seu mais alto nível desde maio de 1998. A moeda se fortaleceu em quase 10% no ano. Fundos do exterior compraram uma soma recorde de US$ 10,59 bilhões em papéis e títulos da dívida até agora em 2007.

O desafio do dinheiro fácil será ampliado nas próximas semanas. O governo de Nova Déli recentemente desembolsou 355 bilhões de rúpias para o RBI adquirir a sua participação de 59,7% no State Bank of Índia, maior instituição de crédito do país. A transação em última análise não envolverá desembolso de dinheiro.

O Reserve Bank restituirá o dinheiro por meio da sua inclusão no dividendo anual que terá de pagar ao governo no fim deste mês ou no começo de agosto. E a operação acrescentará ainda mais liquidez ao sistema bancário.

A hora de enxugar o excesso de dinheiro é agora; caso contrário, a inflação poderá retornar como uma vingança.