Título: Crise abriu espaço para mudanças difíceis, diz Lula
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 26/07/2007, Política, p. A8

Decorridos dez meses de crise e dois acidentes aéreos que mataram no total mais de 300 pessoas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva empossou ontem o novo ministro da Defesa, Nelson Jobim, em substituição a Waldir Pires.

A posse de Jobim completa um ciclo de mudanças no setor anunciadas pelo Planalto após o acidente da TAM, na terça-feira passada, dia 17. Lula deixou claro que a entrada de Jobim tem como principal foco implementar as mudanças apresentadas na última sexta. "A crise pode nos dar condições de fazermos o que precisa ser feito. Coisas que, se fizéssemos antes, seriam criticadas em diversos cantos do país", afirmou Lula, durante discurso de posse do novo ministro.

O presidente já percebeu as dificuldades de implementar as mudanças que planejou com seus ministros. A diminuição dos vôos em Congonhas, com o remanejamento para outros aeroportos do país, vai provocar um aumento nas passagens de avião. A decisão de abrir o capital da Infraero, com a venda de 20% a 25% do capital da estatal na Bolsa de Valores, enfrenta resistências do próprio PT, que teme um "processo de privatização da empresa".

O próprio ministério claudica em sua ineficiência. "É preciso repensar o Ministério da Defesa. Tal como ele está, está aquém daquilo que é a exigência da sociedade brasileira", afirmou o presidente. Para Lula, apenas uma mudança na estrutura da pasta dará condições para que o Ministério faça o que precisa ser feito, "desde reequipar as Forças Armadas até cuidar dos aeroportos e de tudo o mais que for importante".

O presidente afirmou não "ser segredo para ninguém que o Brasil vive uma crise profunda no setor aéreo que dura dez meses". Fruto de problemas que possivelmente já existiam antes, mas que começaram a se evidenciar após o acidente entre a Gol e o jato Legacy, da Excel Air, em setembro do ano passado. "Todos aqui acompanharam a sucessão de acontecimentos que deixaram todos nós com os cabelos um pouco mais brancos", completou o presidente.

Lula disse que não cabe culpar ninguém antecipadamente pela crise, mas que "o governo não pode ficar falando o que acha, o que pensa. Ao governo, cabe a responsabilidade de dizer apenas o que é a verdade". Lula se confessou um medroso ao andar de avião e que sempre entrega a "sua sorte a Deus" quando o avião decola.

O presidente tentou minimizar o embaraço da demissão de Pires. Elogiou seu ex-ministro e disse que ele havia pedido demissão. No briefing pela manhã, o porta-voz Marcelo Baumbach afirmou que Lula havia demitido Pires - uma nota retificando a versão foi publicada posteriormente no site da Presidência. "A crise aérea permitiu que você tomasse a decisão de pedir o afastamento", afirmou Lula.

Ao ministro que entra, Lula deu como primeira missão "visitar o local do acidente em Congonhas e o hospital (IML) onde estão sendo feitos os exames de DNA das vítimas". Disse que Jobim terá mais sorte a partir de agora, porque a Fazenda e o Planejamento liberarão as verbas para a Defesa. E encerrou o discurso com uma frase pouco tranqüilizadora. "Só não podemos prometer que nunca mais teremos um acidente. Mas, se depender de estrutura, podemos dizer que esse país viverá tempos de tranqüilidade", concluiu o presidente.