Título: Pista credencia o pequeno aeroporto de São José
Autor: Landim, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 26/07/2007, Especial, p. A14

Um guichê da Gol Linhas Aéreas está pronto para começar a receber passageiros no aeroporto de São José dos Campos, interior de São Paulo. Com uma pista de 3 mil metros, adequada para aviões de grande porte, o aeroporto, a 95 quilômetros da capital, é visto como uma das alternativas para redistribuir a malha aérea e ajudar a desafogar Congonhas, depois do acidente com o avião da TAM na semana passada, que deixou 200 mortos.

Às 10 horas da manhã de ontem, o pequeno saguão lotado não deixava dúvida de que os passageiros já descobriram o caminho. Marcelo Salles, gerente para América do Sul da Renosa SPA (empresa italiana que fornece equipamentos para a Petrobras) aguardava a saída do vôo da Ocean Air para o Rio de Janeiro, atrasado a uma hora, por conta de transtornos no aeroporto Santos Dumont.

Salles saiu de casa no Rio às 7 horas da manhã de terça-feira. O vôo atrasou, não pousou em Congonhas, e só aterrizou em Guarulhos às 14 horas. O executivo gastou sete horas de viagem para participar de uma conversa de duas horas, que começou às 15h30. Como a reunião também atrasou, Salles perdeu o vôo de retorno e não conseguia comprar novas passagens, porque as companhias aéreas interromperam as vendas. Foi quando se lembrou de São José dos Campos. "É um pouquinho longe, mas valeu a pena", disse.

O aeroporto Professor Urbano Ernesto Stumpf, em São José dos Campos, possui vantagens e desvantagens para funcionar com alternativa para alguns vôos de Congonhas. O principal trunfo é a pista. São três mil metros, 1.060 a mais que em Congonhas. A pista não tem "groving", ranhuras para escoamento de água, mas não é necessário, porque é longa e não possui pontos de alagamento. O aeroporto conta ainda com um sistema de aproximação de precisão de aviões.

"A pista tem tamanho e compactação para qualquer tipo de aeronave. Estamos a disposição para receber vôos de Congonhas", diz o superintendente da Infraero no aeroporto, Jorge Fernando Manzoni dos Santos. Construída em 1973, a pista foi e ainda é utilizada pela Embraer e pelo Centro de Tecnologia da Aeronáutica (CTA) para pesquisa e testes. Em 1996, a Infraero assumiu a administração do aeroporto, que também passou a operar com fins comerciais.

Mesmo antes do acidente em Congonhas, a Gol já planejava iniciar operações nesse aeroporto a partir de agosto. Serão vôos diários, que sairão de São José dos Campos às 6h40 com destino ao Tom Jobim, no Rio de Janeiro, e retornarão às 22 horas. Segundo a Gol, a passagem custará apenas R$ 60, abaixo dos R$ 127 cobrados ontem pela Ocean Air.

Além disso, a Gol negocia com a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) uma operação de emergência, para transferir para São José dos Campos vôos "charter", utilizados para o turismo no Nordeste. Na terça-feira, uma equipe da empresa esteve no aeroporto para verificar as condições. A empresa informa que disponibilizará ônibus para transportar os passageiros. A TAM pode seguir a mesma estratégia, pois já utilizou São José dos Campos com essa finalidade, mas interrompeu a operação em 2002.

As deficiências de São José dos Campos são a distância e a estrutura de atendimento aos passageiros. Para chegar até lá, o viajante gasta uma hora desde São Paulo pelas rodovias Dutra ou Carvalho Pinto/ Ayrton Senna. A área do aeroporto é pequena, com 864 metros quadrados, mas apenas 500 construídos. O aeroporto não conta com esteiras para as bagagens, cabendo aos passageiros retirá-las em um balcão. O estacionamento tem vagas para apenas 49 carros.

Existe um abismo entre as possibilidades da pista de São José dos Campos e sua efetiva utilização. A pista tem capacidade total para 220 mil vôos/ano, 50 mil reservados para Embraer e CTA e 170 mil comerciais - mas no ano passado, apenas 10% desta capacidade foi acionada. Segundo Manzoni, é possível receber quatro Boeings ao mesmo tempo, com 600 pessoas no total. No entanto, não chegam a circular 100 passageiros por dia no terminal. A capacidade anual é de 90 mil passageiros, muito pequena perto dos 650 mil de Viracopos ou dos 18 milhões de Congonhas.

Depois do acidente da TAM e do início da demandas da Infraero e das empresas, Manzoni pediu para duas construtoras estimativas de custos para duplicar a área construída do aeroporto para mil metros quadrados. Segundo ele, a Infraero concedeu 60 dias para alguns aeroportos apresentarem propostas para a reestruturação da malha aérea.

Outra possibilidade para São José dos Campos é atender a demanda da região, que congrega 42 cidades e 2,4 milhões de pessoas. Passageiros como Pedro Echegaray, diretor da planta de Taubaté da Autometal, que também aguardava ontem o vôo da Ocean Air para o Rio de Janeiro. "Normalmente viajo de Guarulhos. É a primeira vez que experimento esse aeroporto", diz o executivo. "Para mim, seria ótimo uma ampliação, porque São José é bem localizado", completa. Ele ressalta que o aeroporto precisa melhorar sua infra-estrutura e conta que estacionou seu carro na grama por falta de vagas.

Manzoni diz que São José também tem vocação para o transporte de carga. Saíram recentemente de lá 35 vôos de exportação para a Ericsson. Está em análise pelo governo há dois anos um plano diretor, que implementaria um "aeroporto-indústria" - um regime aduaneiro especial que isenta de impostos empresas exportadoras que se instalarem na região do aeroporto. Segundo o superintendente, 24 companhias, principalmente do setor aeroespacial, estariam interessadas. (colaborou Vanessa Adachi, de São Paulo)