Título: Expansão do setor depende de avanço da renda
Autor: Valenti, Graziella e Campassi, Roberta
Fonte: Valor Econômico, 26/07/2007, Empresas, p. B3

O setor de educação está diante de um desafio para entregar aos investidores suas promessas. As companhias que foram à bolsa têm planos ambiciosos para aquisições e aumento de capacidade, apostando no crescimento orgânico desse mercado e numa potencial demanda reprimida. O Brasil tem só 4,5 milhões de estudantes universitários, de uma população total de 188 milhões de pessoas.

Ryon Braga, da consultoria Hoper Educacional, acredita que esse mercado deve mostrar estabilidade, pois o aumento da procura esperado já ocorreu nos últimos anos. Para ele, as empresas que se comprometeram com uma forte expansão orgânica terão dificuldades. "Todas estão prometendo mais do que podem entregar."

A Unesco calcula que apenas 20% dos jovens do país entre 18 e 24 anos estejam matriculados em cursos universitários. O Plano Nacional de Educação, do governo federal, quer que esse percentual alcance 30% em 2010. Caso as novatas de capital aberto encontrem um modelo econômico viável, devem contribuir com essa meta.

Somente a rede Pitágoras, da Kroton, tem 16 campi em construção. As 10 mil vagas atuais devem transformar-se em 65 mil quando as instalações estiveram finalizadas. Para 2008, metade já deve estar pronta. A Unip, de João Carlos Di Genio, planeja dobrar de tamanho até 2011, sem contar possíveis aquisições. Serão, no total, 430 mil vagas, sendo 215 a mais do que há hoje. Estácio e Anhangüera não divulgam estimativas, mas falam em aumentar a oferta de matrículas.

O consultor da Hoper é cético quanto à capacidade de absorção dessas vagas. "A população que pode pagar uma faculdade não vai crescer tanto." Para ele, também não há espaço para cortes na mensalidade ao ponto que possa atingir a população carente. "As margens das empresas já estão no limite, não é possível reduzir mais."

Experiente, Di Genio alerta: "Esse pessoal que está chegando tem que saber que vai ter que cobrar mensalidade baratinha". Destaca ainda a importância do capital de giro para agüentar a inadimplência, que passa de 20% no meio do semestre. "Se não, você cai no banco e não sai mais."

O último levantamento da Hoper sobre o tema mostra que a fatia de alunos com renda de até 10 salários mínimos (R$ 3,8 mil) subiu de 41,5% para 57,3% de 2002 a 2004. A população de renda média e baixa puxou a expansão do setor a partir de 1999, quando o governo passou a permitiu que instituições de ensino superior tivessem fim lucrativo. (GV e RC)