Título: Mercado interno aquecido derruba exportação de aço
Autor: Santos, Chico
Fonte: Valor Econômico, 26/07/2007, Empresas, p. B8

O aquecimento do mercado doméstico levou o setor siderúrgico do país a uma seqüência de recordes no primeiro semestre deste ano, começando pela produção de laminados que alcançou 12,55 milhões de toneladas, expandindo 12,6% ante o mesmo período do ano passado. As vendas internas também foram recorde, tanto em aços planos (5,82 milhões de toneladas) como em aços longos (3,51 milhões de toneladas), respectivamente, 15,6% e 10,6% sobre o período janeiro a junho de 2006.

Apesar de a produção total de aço bruto ter alcançado 16,33 milhões de toneladas, com crescimento de 12,8% sobre igual período do ano passado, grande parte das vendas internas deveu-se à queda nas exportações, tanto de laminados como de semi-acabados, de acordo com os dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS).

As vendas externas de laminados somaram 5,55 milhões de toneladas, com queda de 10,2%. Em laminados, a queda foi de 10,7%, para 3,05 milhões de toneladas, e em semi-acabados, de 9,6%, para 2,56 milhões de toneladas. Apesar da retração até junho, o IBS ainda espera que as exportações cresçam em volume 7,4% em 2007. Ainda segundo as previsões, a produção de aço bruto aumentará 13,2% e as vendas internas, 10,3%.

"Onde se ganha mais dinheiro é no mercado interno. Quando se exporta, raramente se consegue atender os setores mais sofisticados dos países compradores, que adquirem da indústria local. Toda vez que o mercado interno puxar e tivermos condições de atender, teremos melhores resultados", disse Rinaldo Campos Soares, presidente do IBS. Os números que ele forneceu deixam clara essa opção: no ano passado, as usinas de aço locais exportavam 38% da produção e vendiam 62% no país. No primeiro semestre deste ano, essa relação mudou para 25% e 75%. No segundo semestre, Soares prevê que a parcela exportada cairá para apenas 18%.

O risco a ser evitado é o de perder mercados nesse processo de migração, adverte o executivo. Mesmo porque, apesar da sobrevalorização do real que deprime o valor das exportações, a alta dos preços internacionais segue justificando as vendas para o exterior. Tanto que o faturamento com as exportações de janeiro a junho alcançou US$ 3,546 bilhões, com alta de 17% sobre o primeiro semestre de 2006, mesmo com a queda das quantidades vendidas.

No país, quem puxou as vendas das usinas, segundo Soares, foram a indústria automobilística, a construção civil, a indústria de tubos de grande diâmetro (para dutos) e a produção de máquinas e equipamentos (bens de capital). As recentes contratações de navios pela Petrobras ainda não tiveram efeito sobre a demanda de aço porque, segundo Soares, as compras pelos estaleiros ainda estão sendo negociadas.

O aquecimento da demanda doméstica permitiu reajustes de preços para, de acordo com o executivo, compensar parte do aumento de custos. Falando apenas como presidente da Usiminas (o IBS não fala sobre preços), Soares disse que a siderúrgica subiu seus preços de 4% a 5% no primeiro semestre e afirmou que hoje os preços estão "adequados" e "estáveis". Segundo ele, os aumentos foram decorrentes de pressão provocada pela alta dos insumos, como do minério de ferro, níquel e outros. O dólar barato, favorecendo a compra de insumos, teria evitado aumentos mais fortes, afirmou.

Soares disse que a siderurgia brasileira não está preocupada com notícias de que a montadora Fiat, localizada a menos de 300 km da Usiminas, está importando chapas de aço da Coréia do Sul, país situado a milhares de quilômetros do Brasil. "Importar é uma opção do cliente", afirmou, conjeturando que operações como as da Fiat são esporádicas e podem estar relacionadas com financiamentos vantajosos ou com operações de drawback (importações sem tributos de insumos para produtos destinados a exportações).

O IBS prevê que as siderúrgicas já existentes no país investirão US$ 17,2 bilhões de 2007 a 2012 para ampliar a capacidade de produção de 37,1 milhões para 52,2 milhões de toneladas. Além disso, novos atores, como a Cia. Siderúrgica do Atlântico (CSA) investirão US$ 5,8 bilhões até 2010 para acrescentar outras 7,1 milhões de toneladas.