Título: Grandes empresas voltam a tomar empréstimos nos bancos
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 26/07/2007, Finanças, p. C1

As grandes empresas voltaram a tomar empréstimos em bancos, retomando uma alternativa de financiamento que foi relegada a segundo plano nos dois últimos anos, em favor de operações no mercado de capitais. É o que mostram as estatísticas sobre o crédito do sistema financeiro divulgadas pelo Banco Central.

A média diária de contratação de empréstimos com juros flutuantes, dirigidos sobretudo às grandes empresas, cresceu 15,9% em junho, chegando a R$ 982 milhões. A carteira total desses empréstimos avançou 2,5% no mês, subindo para R$ 66,509 bilhões.

"As taxas de juros caíram muito, fazendo as empresas considerarem também a alternativa de buscar recursos no sistema financeiro", afirma o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes. A grande maioria dos empréstimos com juros flutuantes é atrelada ao CDI, uma taxa usada em financiamentos entre bancos, que por sua vez acompanha de perto os movimentos na taxa básica de juros definida pelo BC, a Selic.

As grandes empresas tomaram menos empréstimos bancários a partir de 2005, quando a economia vivia um período de aperto monetário, que fez a Selic chegar a 19,75% ao ano. A volta ao crédito bancário ocorre depois de um período de distensão monetária , iniciado em setembro de 2005, em que o BC reduziu a Selic 17 vezes, para 11,5%. O custo médio de operações de capital de giro com juros flutuantes foi de 20,2% ao ano em junho; em dezembro de 2005, era 27,7%.

Enquanto o crédito bancário perdia força, avançavam as operações no mercado de capitais. Entre 2004 e 2006, o registro de ofertas públicas primárias na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) subiu de R$ 29 bilhões para R$ 122 bilhões, considerando desde ações até debêntures e fundos de direitos creditórios.

"Agora estão crescendo tanto os empréstimos bancários quanto as captações no mercado de capitais", afirma Lopes. Nesse ano, as captações registradas no CVM chegam a R$ 73 bilhões, apenas até o dia 25 de julho.

A saída das grandes empresas do mercado de crédito chegou a ser interpretada como uma nova tendência de desintermediação. Ou seja, em vez de captar recursos dos bancos - um intermediário que repassa recursos tomados junto ao público -, as grandes empresas passariam a acessar diretamente os investidores.

Algumas análises diziam que o crédito bancário, cada vez mais, seria destinado às micro, pequenas e médias empresas. De fato, de 2004 para cá houve um forte crescimento dos empréstimos para esse nicho de mercado. O BC chegou a divulgar um estudo mostrando que, devido ao crescimento do crédito para micro e pequenas, segmento com maior risco, as taxas médias de juros bancários cobradas das empresas tenderiam a cair menos.

O Banco do Brasil registra nesse ano um avanço de 10,3% na carteira de crédito de grandes empresas, que chegou a R$ 50,3 bilhões em junho. "Dependendo da situação, o crédito pode ser a melhor opção", afirma o diretor comercial do Banco do Brasil, Sandro Kohler Marcondes. A contratação de um empréstimo é mais rápida e simples. Também ficou mais competitiva depois da queda dos juros, considerando que uma captação no mercado de capitais tem outros custos, como comissões e honorários.

Não há uma regra geral que diz quando uma empresa deve ir ao mercado de capitais. De forma geral, porém, companhias abertas vão ao mercado de capitais atrás de recursos de longo prazo, para financiar investimentos ou aquisições. Os empréstimos são destinados sobretudo a capital de giro. Mas, devido ao alargamento dos prazos dos empréstimos, essa também pode ser uma opção para investimentos. E, se a empresa tiver um giro mais longo, o mercado de capitais pode ser a saída. O prazo médio das operações de capital de giro subiu de 346 para 418 dias entre junho de 2006 e 2007. Não são raras operações com quatro anos. "É normal as empresas usarem mais de uma alternativa de financiamento", diz Marcondes.

Segundo Lopes, o comércio está liderando a contratação de empréstimos bancários, incluindo redes varejistas, atacadistas de alimentos e lojas de eletroeletrônicos. "As redes varejistas estão tomando recursos nos bancos para financiarem as vendas aos clientes", afirma Lopes. Os dados sobre o comércio, que incluem todas as empresas, mostram alta de 2,6% em junho.

"É um setor que trabalha com um giro rápido de estoque", afirma Marcondes. "Os empréstimos estão cada vez mais lastreados em recebíveis do cartão de crédito, permitindo fazer operações bem atrativas." Segundo ele, o empréstimo bancário é uma segunda alternativa para financiar as vendas, que convive com as linhas criadas nas parcerias entre bancos e redes varejistas.

Na indústria, os destaques são os setores de cimento, agroindústria e petroquímica. O crédito à indústria cresceu a uma taxa mais modesta em junho, de 0,8%, mas o avanço em 12 meses é de 21,3%. "Esses setores refletem o bom momento da economia", diz Marcondes. "Com a demanda aquecida, as empresas precisam de mais capital de giro."

"A retomada da agricultura está puxando a agroindústria", afirma Lopes. Marcondes diz que, recentemente, as indústrias de processamento de carnes e aves passaram a tomar mais crédito porque assumiram parte dos riscos do negócio agropecuário, como insumos e preços.

O volume total de crédito na economia cresceu 1,3% em junho, chegando a R$ 799,209 bilhões, ou 32,3% do Produto Interno Bruto (PIB). O crescimento do crédito foi mais forte nas operações para empresas (1,7%) do que para pessoas físicas (1%).

A taxa média de juros caiu pelo quinto mês seguido, de 37,4% para 37% . A maior parte da queda é devida à redução do custo de captação dos bancos, que passou de 11,2% para 10,9%, refletindo a redução na taxa Selic. Os bancos reduziram o "spread" médio das operações de crédito em 0,1 ponto percentual (pp.), para 26,1%.