Título: Credores tentam melhorar a oferta
Autor: Tatiana Bautzer
Fonte: Valor Econômico, 18/01/2005, Finanças, p. C10

Os credores internacionais da Argentina iniciaram nova ofensiva para tentar conseguir melhoras na oferta de reestruturação de US$ 81 bilhões da dívida do país. Credores na Europa e Estados Unidos anunciaram na sexta-feira sua rejeição à oferta, esperando que o governo ofereça mais. A batalha será acirrada até a data de vencimento da oferta, 25 de fevereiro. A adesão final deve ser anunciada em 18 de março. O presidente Nestor Kirchner disse na semana passada que "o mundo inteiro deveria saber" que nada vai mudar na oferta. Mas os credores insistem que o país tem condições de pagar mais do que ofereceu até agora e afirmam que a oferta piorou entre o que o governo anunciou em julho do ano passado e a oferta final, desenhada em meados de setembro. "Não vamos aceitar a oferta se não houver melhora", afirma o administrador do fundo de renda fixa de países emergentes da empresa T. Rowe Price, Michael Conelius. Ele acredita que terminar o prazo de adesão com um número fraco "será o pior dos mundos" para a Argentina. "A oferta feita em julho tinha condições melhores, como taxas de juros mais altas em alguns casos para estimular a adesão", diz Conelius, que tem US$ 80 milhões em títulos argentinos (apenas uma parte em default). A Gramercy Advisors, uma administradora de fundos com sede em Connecticut, adotou a mesma posição, dizendo que a oferta é unilateral e abaixo da capacidade de pagamento do país - que aumentou nos últimos três anos com crescimento do PIB e das exportações. A estratégia está sendo estimulada pelo Comitê Global de Detentores de Bônus da Argentina (CGDB), que anunciou oficialmente na semana passada rejeitar as condições da oferta. O grupo diz representar investidores de US$ 38 bilhões da dívida em default, e está coordenando duas ações judiciais coletivas nos tribunais federais de Nova York para cobrar o pagamento pela Argentina. Segundo o co-presidente do comitê, Hans Hume, a Argentina está dando apenas "o primeiro passo numa negociação posterior. Eles fizeram sua oferta e estamos fazendo a nossa". Desde o início da renegociação argentina, os credores europeus têm sido mais agressivos contra o país do que os americanos, que detêm cerca de 10% do total da dívida. Segundo Conelius, da T.Rowe Price, a diferença é que a maior parte dos credores na Europa é composta por investidores de varejo, que compraram bônus da Argentina de gerentes de "private banking" na Europa, como se fossem um CDB com rendimento mais alto. "É claro que um aposentado em Milão que vai receber o total investido só em 2038, quando já estará morto, está muito mais irritado do que um fundo de investimento", diz. Os italianos têm cerca de 15% do total da dívida argentina em default. Nos Estados Unidos, a maior parte dos credores é composta de investidores institucionais (fundos de investimento principalmente), que têm um percentual menor da carteira total investido em bônus argentinos. Alguns deles compraram os papéis no mercado secundário depois do default. "Nós compramos uma parte da dívida no mercado secundário, mas também tínhamos operações na Argentina e emprestamos dinheiro diretamente ao governo", disse Conelius em entrevista por telefone ao Valor. Ele rejeita o rótulo de "abutres" que o governo argentino atribui aos fundos que compraram a dívida já descontada no mercado secundário. Conelius diz que a maior parte dos fundos de investimento já marca a dívida "a mercado", ou seja, coloca nas cotas dos fundos o valor de negociação no mercado secundário. Na sexta-feira, depois da apresentação oficial da oferta, os papéis argentinos estavam cotados a 32% de seu valor de face. Na Argentina, os primeiros investidores a aceitar a oferta foram os fundos de pensão, que não precisam marcar a mercado seus investimentos. O Comitê Global de Credores tem em Nova York uma ação coletiva contra a Argentina que inclui automaticamente todo credor do país- excluindo apenas os que aderirem à oferta. Até agora, todas as tentativas de conseguir pagamentos pela via judicial foram frustradas, mas os credores citam alguns casos de sucesso como ações contra os governos do Peru, Panamá e Equador. O comitê está fazendo um "road show" alternativo para os investidores, para convencê-los a rejeitar a oferta. Até agora, entre 20% e 25% dos credores aceitaram a oferta. São principalmente bancos e fundos de pensão argentinos.