Título: Brasil está em situação confortável, diz Mantega
Autor: Leo, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 27/07/2007, Finanças, p. C3

O Brasil esta "a cavaleiro" para enfrentar com tranqüilidade as atuais turbulências no mercado internacional, garantiu o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Para o ministro, o Brasil tem quatro "armas" para enfrentar a turbulência: o câmbio flutuante, a situação positiva das contas do país com o exterior, a solidez da situação interna e as reservas recordes de US$ 154, 6 bilhões em moeda estrangeira.

"É muito cedo para saber o tamanho dessa turbulência; para saber se vai ou não continuar temos de aguardar o comportamento dos mercados internacionais", comentou Mantega, que disse esperar, "no máximo", um comportamento semelhante ao de maio de 2006, quando, por problemas da economia americana, houve duas semanas de perturbações nos mercados mundiais. As reações dos investidores, porém, obrigaram a Secretaria do Tesouro Nacional a suspender ontem um leilão de títulos da dívida mobiliária federal.

A última vez em que o Tesouro suspendeu a venda de títulos foi, não por coincidência, em maio. Ontem, embora aparecessem interessados nos papéis do governo, as taxas pedidas pelos investidores foram consideradas excessivas, segundo o coordenador-geral de Operações da Dívida Pública, Guilherme Pedras. Como as emissões de títulos em junho foram suficientes para cobrir os compromissos de julho, o governo preferiu mostrar que tem dinheiro em caixa para enfrentar as turbulências.

O grande peso do mercado interno na economia brasileira é um dos fatores que permite ao país passar sem crises pelas incertezas do mercado, argumentou o ministro Guido Mantega. "Em nossa economia, 80% do PIB depende do mercado doméstico, que está muito robusto", lembrou Mantega. "Mesmo que haja redução de preço nas nossa commodities, um faturamento menor do Brasil no mercado internacional, há uma compensação, mais que suficiente, no mercado local, que continua crescendo", avaliou.

Para o ministro, se as "turbulências" se aprofundarem e criarem uma crise nos mercados mundiais, uma possível conseqüência para o Brasil seria a redução nos preços das mercadorias básicas mais comercializadas, as chamadas commodities, com reflexos negativos para o desempenho comercial brasileiro. Mesmo nesse caso, acredita, haveria uma "pequena redução" no superávit comercial brasileiro, que vem crescendo em ritmo superior às previsões mais otimistas.

Mantega garantiu que a elevação da cotação do dólar não deve trazer reflexos inflacionários, porque é pequena em comparação com a valorização dor real, nos últimos dias. "Não podemos ter o ovo e a galinha o mesmo tempo", disse. "Todos queremos que a inflação continue caindo, e sabemos que a valorização do real ajuda nisso; mas também não queremos que a valorização seja tão grande a ponto de prejudicar certos setores produtivos brasileiros."

Mantega chegou a falar em "crise" no mercado, para corrigir-se em seguida e afirmar que é apenas uma turbulência o que houve ontem, provocada pelas perdas dos fundos de investimento de risco (hedge funds) com a inadimplência no mercado de papéis imobiliários de baixa qualidade. Para cobrir eventuais prejuízos, os investidores vendem papéis de mercados emergentes, como o Brasil, e buscam refúgio em títulos do Tesouro dos EUA.

Esse movimento não é novo, lembrou o ministro; é um dos responsáveis pela desaceleração da economia americana, mas tem sido compensado pela continuidade do crescimentos nos mercados europeus, latino-americanos e asiáticos.