Título: Ata acena com "maior parcimônia"
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 27/07/2007, Finanças, p. C3

A ata do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central acena com a possibilidade de agir com "maior parcimônia", desacelerando o ritmo de corte na taxa básica de juros, de 0,5 para 0,25 ponto percentual (pp.). O documento detalha as discussões da reunião da semana passada, quando a Selic caiu de 12% para 11,5% ao ano, com três dos sete votos por redução ainda mais modesta, de 0,25 pp. A palavra "parcimônia" já vinha sendo usada nos documentos oficiais do BC, mas analistas econômicos notaram que, desta vez, foi empregada com ênfase um pouco maior. A ata diz que o controle da inflação "demandará que, a partir de determinado ponto, a flexibilização da política monetária passe a ser conduzida com maior parcimônia".

"A ata apenas consolidou uma visão, já dominante no mercado, de que o próximo corte de juros será de 0,25 pp.", afirma Solange Srour, economista-chefe da Mellon Global Investments Brasil. "O placar apertado da reunião do Copom, com 4 votos a 3, reduziu em muito as chances de um novo corte de 0,5 pp." "O próximo movimento será, mais provavelmente, um corte de 0,25 pp.", aposta Elson Teles, economista-chefe da Corretora Concórdia. "E não está descartada nem mesmo a suspensão nos cortes da taxa básica de juros, caso se intensifique a deterioração observada nos últimos dias no mercado financeiro internacional."

A ata diz que as projeções de inflação do BC para 2008, ano que hoje baliza as decisões de política monetária, melhoraram em relação aos 4,1% projetados no relatório de inflação de junho - percentual que já estava abaixo do centro da meta, fixada em 4,5%. Mas o documento reforça que pioraram os fatores que colocam em risco a concretização desse cenário benigno.

Nas suas três últimas reuniões, o Copom tem se dividido em dois grupos. De um lado, estão os membros que alertam que, depois de 17 cortes na taxa básica desde setembro de 2007, há incertezas sobre como a inflação irá atingir a economia e a inflação. Outro grupo vem defendendo que dá para cortar os juros mais rápido porque a alta das importações abastece o mercado doméstico, contendo a inflação.

A ata do Copom, porém, faz mais referências ao aquecimento da economia do que aos efeitos benignos das importações e investimentos. "Os dados mais recentes indicam que, apesar de bastante robusto, o investimento tem sido insuficiente para evitar uma elevação significativa das taxas de ocupação da indústria", afirma o documento do BC. "Tal situação pode refletir defasagens na maturação de projetos de expansão da capacidade ou um aquecimento mais significativo do que se esperava da atividade produtiva."

O Copom, que costuma pesar com muito cuidado cada palavra usada na ata, reproduz uma série de alertas que vinha fazendo nos meses anteriores, porém usando termos mais duros. Em determinada altura, diz que a ampliação do investimento será fundamental para evitar descompassos mais "agudos" no que se refere à evolução da oferta e da demanda. Na ata anterior, falava-se em "descompassos relevantes". Na ata anterior, o Copom dizia que o descompasso entre oferta e demanda poderá colocar riscos para a inflação "no médio prazo". Na ata que saiu ontem, a expressão "médio prazo" foi suprimida. O BC manifesta, pela primeira vez, desconforto com a deterioração das expectativas. "O comitê observa também que a elevação das expectativas de inflação para 2007 e para os próximos 12 meses, ainda que para níveis inferiores à meta estabelecida para 2007 e 2008, é um processo que deve ser monitorado".

O BC não diz o que levou à deterioração das expectativas. Entre os analistas de mercado, há duas visões. Um grupo diz que a pressão na inflação corrente levou à alta da expectativa de inflação. Outro grupo afirma que, além da inflação corrente, há o confuso anúncio de uma meta de 4,5% para 2009 pelo Conselho Monetário nacional.