Título: Seguradoras fazem novos planos para pequenos negócios
Autor: Rockmann, Roberto
Fonte: Valor Econômico, 27/07/2007, Caderno Especial, p. F7

O mercado de seguro-saúde para pequenas e médias empresas tem despertado a atenção cada vez maior das seguradoras. Como a maioria das grandes companhias instaladas no Brasil já oferece a seus funcionários esse benefício, as seguradoras começam a apostar cada vez mais no segmento de empresas menores, lançando novos planos e oferecendo serviços a custos reduzidos. As boas perspectivas da economia nos próximos anos devem estimular a política de indústrias e prestadoras de serviços de conceder benefícios para atrair e reter seus melhores talentos. Simultaneamente, o maior ingresso de empresas na bolsa de valores e a disseminação de práticas de governança corporativa em diversos segmentos levam as grandes empresas a aumentar as exigências de seus fornecedores pequenos e médios. Diante desse cenário, especialistas estimam que esse nicho pode crescer a dois dígitos nos próximos anos.

No mês passado, o Instituto de Previdência e Assistência Odontológica (Inpao) fechou um acordo com a Porto Seguro para seguro-saúde de 22 vidas. A empresa já oferecia plano de saúde a seus empregados, mas decidiu mudar de uma operadora de saúde para seguradora. A possibilidade de ter um reembolso maior e de ter uma rede de atendimento ampliada na cidade de São Paulo foi fundamental para a escolha. "Houve uma elevação de apenas 5% nos custos com a troca, e ainda estamos oferecendo um serviço mais amplo a nossos funcionários", afirma o diretor da empresa, Claudio Aboud.

"A venda nesse segmento de pequenas e médias vem crescendo bastante", afirma a gerente de produtos da Porto Seguro Saúde, Luciane Correa, sem revelar os números. O potencial para crescimento nesse setor, afirma, é grande. O foco da empresa está nas empresas com mais de 20 vidas. Para crescer nessa área, a prioridade é inovar sempre, lançando produtos diferenciados no mercado. "Estamos preparando o lançamento de um produto para esse segmento até o fim do ano, incorporando mais benefícios e serviços", conta Luciane.

Na Bradesco Saúde, o cenário para este ano e os próximos também é bastante positivo. "A venda de seguro-saúde nesse segmento cresceu 16% em 2006 e se expandiu em 20% neste primeiro quadrimestre, com expectativa de encerrar 2007 com alta de 20%", afirma o diretor-geral da seguradora, Heráclito de Brito Gomes Júnior. É possível repetir essa performance ao longo dos próximos meses e dos próximos dois anos? O executivo acredita que sim. "Quando o Brasil obtiver o grau de investimento, novas empresas deverão chegar, novos investimentos virão, isso deverá criar um ciclo virtuoso para a economia", afirma.

Simultaneamente, vem havendo uma mudança de comportamento entre pequenas e médias empresas. A concessão de benefícios a empregados vem ganhando relevância ao longo dos últimos cinco anos. Muitas dessas empresas têm prestado cada vez mais serviços a grandes empresas, cujas políticas de relacionamento com fornecedores têm sido fortalecidas, buscando reduzir eventuais custos trabalhistas. Para não perder seus grandes clientes, pequenas e médias empresas vêm buscando melhorar a política de concessão de benefícios a seus próprios funcionários.

Há quatro anos, quando se perguntava a pequenas e médias empresas qual o motivo da decisão de buscar um seguro-saúde, a resposta tinha sempre a ver com preços e benefícios. Hoje a resposta é que elas buscam oferecer a seus funcionários o mesmo que as grandes empresas oferecem.

Para crescer mais nesse mercado, um dos mais dinâmicos, a Bradesco Saúde vem buscando inovar na sua linha de produtos, aumentando a flexibilidade. "Estamos desenvolvendo produtos especiais para pequenas e médias empresas", afirma Heráclito. Neste ano, a Bradesco Saúde lançou seguro-saúde com cobertura local para empresas com negócios em São Paulo, Salvador e Rio de Janeiro. Ou seja, as empresas que o contratam têm cobertura local apenas na capital em que atuam - um produto voltado para empresas que atuam apenas em uma cidade - um produto que atende melhor às necessidades de pequenas e médias companhias. "Com isso temos preços mais adequados a nossos clientes", comenta o executivo.

Como a maioria das grandes empresas já oferece esses benefícios a seus empregados, a Bradesco tem nas pequenas e médias empresas um dos seus principais ramos de atuação, dentro de sua estratégia de crescimento sustentado. "É uma forma de ampliarmos nossa base de clientes em um dos nichos mais dinâmicos", afirma Heráclito.

"Com o crescimento econômico e as boas perspectivas para os próximos anos, cada vez mais as empresas têm buscado ampliar os seus benefícios", diz o presidente da Unimed Seguros, Dalmo Claro de Oliveira. Neste ano, a empresa vem registrando crescimento de 30% no total. "A cultura de oferecer a melhor valorização possível para os empregados vem sendo consolidada", afirma o executivo.

Para Oliveira, o potencial de crescimento em pequenas e médias empresas é grande principalmente na área de serviços, com destaque para a área de telefonia, logística e indústrias.

As micro e pequenas empresas também têm se constituído em atraente nicho de negócios para as operadoras de planos de saúde. "Nesse segmento deve haver uma concorrência cada vez maior com a seguradoras. Essa disputa pode trazer melhores serviços e preços para os consumidores", afirma o presidente da Associação Brasileira de Medicina de Grupo (Abramge), Arlindo de Almeida.

Para avançar ainda mais nesse cenário, as operadoras de saúde vêm buscando aumento de escala, seja por aquisições ou fusões, seja pela construção de hospitais próprios e equipe médica própria, em linha com a estratégia de crescer com redução de custos.

Hoje no Brasil há mais de duas mil operadoras de diferentes tamanhos operando no setor, enquanto no setor segurados existem dez principais agentes, o que indica que movimentos de fusão e aquisição devem ser muito mais intensos entre as operadoras.

Com a Lei Geral da Micro e Pequena Empresa - também conhecida como Supersimples -, as operadoras prevêem ainda mais ganhos. A legislação deverá trazer benefícios para as micro e pequenas empresas, com redução de tributos e burocracia, podendo impulsionar esse segmento. Hoje cerca de 70% dos planos das operadoras estão ligados a uma pessoa jurídica. Com a nova lei, caso sejam contornadas as dificuldades iniciais de implementação, mais de dez milhões de micro empresas podem sair da informalidade, o que aumentaria o mercado em potencial.