Título: Indústria prevê forte expansão no 2º semestre
Autor: Lamucci, Sergio e Santos, Chico
Fonte: Valor Econômico, 30/07/2007, Brasil, p. A3

Depois do desempenho acima do previsto registrado de janeiro a junho, a indústria entrou no segundo semestre confiante na manutenção de um ritmo forte de crescimento na segunda metade do ano. Setores importantes, como os de papelão ondulado, siderúrgico e petroquímico, mostram uma expansão robusta.

O bom momento da economia fica evidente no resultado da pesquisa realizada pelo Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp). De 608 empresas ouvidas, 48% disseram que os negócios de janeiro a junho foram melhores do que no mesmo período do ano passado, ao passo que 25% relataram desempenho igual, e 27%, resultado pior. Além disso, 67% informaram estar otimistas ou muito otimistas quanto às perspectivas para o segundo semestre.

A grande estrela de 2007 é o mercado interno, diz Boris Tabacof, diretor do departamento de economia do Ciesp. O aumento da renda, a oferta de crédito e a queda dos juros dão fôlego à atividade econômica, afirma ele, que destaca a forte disposição do empresariado em fazer investimentos: 74% das companhias consultadas informaram que já investiram ou vão investir em 2007. No levantamento feito em julho de 2006, esse percentual era de 64%.

"Para o crescimento ter sustentabilidade, é necessário conjugar duas coisas: o consumo, que já vem forte há bastante tempo, e o investimento, que dá sinais de ganhar mais força, como mostra a pesquisa", afirma Tabacof. Um quarto das companhias disse que vai comprar novas máquinas, o que indica intenção de aumentar a capacidade produtiva e a produtividade, avalia o diretor do Ciesp.

Esse estado de espírito otimista , porém, pode ser maculado, caso a turbulência dos mercados nos últimos dias não seja passageira. Tabacof considera improvável uma crise global no momento, mas aponta dois riscos para a a economia brasileira, caso a tempestade internacional piore. O primeiro é que haja contração da demanda global, o que pode ocorrer se consumo nos EUA cair com força. O outro risco é o de que o BC reduza os juros mais lentamente ou interrompa o processo de queda da Selic. Tabacof não considera que esse seja o quadro mais provável. "A possibilidade de uma crise mais grave parece pequena", afirma.

Um dos setores que vão muito bem é o de aços planos. Segundo o diretor-presidente da distribuidora Rio Negro, Carlos Loureiro, o segmento teve um primeiro semestre muito positivo. De janeiro a junho, as usinas entregaram para o mercado volume de aços planos 16% superior ao registrado no mesmo período de 2006. "É um crescimento fabuloso" No ano passado, o número foi de 9%. Loureiro está otimista quanto ao desempenho no segundo semestre, e acredita que o crescimento no ano deve ficar em 15% a 16%, próximo ao registrado no primeiro semestre.

A indústria automobilística, os produtores de máquinas agrícolas e a construção civil são alguns dos segmentos que têm registrado forte demanda pelo aço, segundo Loureiro. Ele diz que as encomendas em julho continuam firmes.

O setor de papelão ondulado também teve um semestre bastante positivo. De janeiro a junho, as vendas aumentaram 6% em relação a igual período do ano passado. O presidente da Indústria São Roberto, Roberto Nicolau Jeha, acredita que o setor poderá manter o ritmo no segundo semestre, terminando 2007 com crescimento de 6%. No começo do ano, diz ele, a expectativa era de alta de 3%.

A São Roberto registrou expansão mais modesta no primeiro semestre, de 2%, devido, segundo ele, à estratégia de preservar um pouco a margem de lucro em detrimento do aumento do volume de vendas. "Acredito que o resultado do segundo semestre será melhor, a São Roberto poderá fechar o ano com crescimento de 4% a 5%", diz Jeha.

O primeiro semestre só não foi melhor para a Rio Polímeros (Riopol), maior planta de polietileno do Sudeste, devido à irregularidade no fornecimento de gás pela Petrobras. A empresa é a única a usar gás natural como insumo básico. "Estamos acima de 40 mil toneladas por mês, limitados só um pouco pelo fornecimento de matéria-prima", afirma o diretor comercial da empresa, Marco Quirino. A Riopol tem capacidade para produzir 45 mil toneladas mensais de polietileno e entrou em operação comercial em março de 2006.

Segundo Quirino, na primeira metade de 2007 a demanda foi "muito mais sólida" que em igual período do ano passado, tanto que o mercado interno está assimilando pequena alta de preços. Em julho, os preços por tonelada estão cerca de R$ 100 mais elevados, um aumento de cerca de 3%. No mercado externo, a demanda também puxa os preços para cima e compensa a perda de faturamento decorrente da valorização cambial.

Na Petroflex, maior produtora de borracha sintética da América Latina, a produção também está em alta. Luiz Carlos Lopes, diretor financeiro da empresa, disse que o segundo trimestre deste ano só perdeu no passado recente para o quarto trimestre de 2004, quando a economia brasileira vivia período de forte aquecimento. Segundo Lopes, a demanda no primeiro semestre deste ano foi 15% maior que a do mesmo período do ano passado, estimulada pelo crescimento da safra agrícola, cujo escoamento exigiu maior uso de caminhões, e pelo aumento da produção de automóveis no país.

Na pesquisa do Ciesp, as micro, pequenas e médias empresas relataram desempenho um pouco pior do que as grandes. A questão, avalia Tabacof, é que as companhias de maior porte conseguem driblar essa combinação de dólar barato e juro elevado, porque têm acesso a dinheiro mais barato, conseguem criar novos produtos e diversificar atividades.