Título: Superávit com vizinho deve ter redução de US$ 2 bilhões
Autor: Leo, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 30/07/2007, Especial, p. A16

Em julho, pelo segundo mês seguido, as vendas de produtos do Brasil à Argentina crescerão menos do que as vendas dos argentinos ao mercado brasileiro, o que contribuirá para reduzir ainda mais o grande superávit acumulado pelos brasileiros no comércio com o país vizinho, que chegou a US$ 3,7 bilhões em 2006. Neste ano, à exceção de abril, os superávits comerciais do Brasil com os vizinhos têm sido, mês a mês, repetidamente inferiores aos registrados em 2006, e somaram, no primeiro semestre, um total inferior em US$ 200 milhões aos resultados no mesmo semestre do ano passado.

"A Argentina deve diminuir o déficit em até US$ 2 bilhões, em 12 meses", prevê o diretor do Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Fiesp, Carlos Cavalcanti, que comemora o fato. A redução do superávit com a Argentina não se dá com queda nas vendas do Brasil ao país, mas com o aumento das exportações de ambos os parceiros, em um ritmo maior para os argentinos que para os brasileiros, o que, de acordo com avaliação dos técnicos do Ministério do Desenvolvimento, contribui para "desafogar" as relações comerciais bilaterais.

Especialistas que acompanham os resultados do comércio em julho informam que a tendência de redução do superávit e aumento das vendas argentinas se manteve neste mês, embora poucos compartilhem do otimismo do executivo da Fiesp. Extra-oficialmente, acredita-se no governo que o superávit com o país vizinho pode ficar um pouco abaixo de U$ 3 bilhões neste ano.

O maior aumento nas vendas do Brasil ao vizinho ocorre entre os produtos da indústria automobilística, como partes e peças, que registraram crescimento de 30% nas vendas do primeiro semestre. A exportação de automóveis aumentou 25%. A alta mais expressiva, em termos relativos, é o das vendas de tubos de ferro ou aço, que aumentaram quase 300% (e saíram de inexpressivos US$ 7 milhões para quase US$ 27 milhões).

Dos 13 principais produtos de exportação brasileira à Argentina, com vendas superiores a US$ 80 milhões no primeiro semestre, apenas o minério de ferro teve queda (12%) nas exportações. As vendas de óxidos e hidróxidos de alumínio cresceram 107%, papel kraft e cartão, 46%, e produtos de perfumaria, 27%.

O crescimento nas importações de produtos argentinos feitas pelo Brasil é mais impressionante, em termos relativos, porque é concentrado em menos produtos. As importações de automóveis argentinos cresceram notáveis 80% no primeiro semestre, chassis e carrocerias, mais de 240%. Entre os produtos cujas vendas mais aumentaram ao Brasil estão o trigo (72%), fraldas descartáveis (115%), alhos e inseticidas (mais de 60%, ambos ). A farinha de trigo, alvo de queixas dos produtores brasileiros que está sob análise na comissão de monitoramento de comércio, teve o mais espetacular crescimento: mais de 98 mil por cento, de US$ 63 mil para US$ 62 milhões.

"A Argentina voltou a ver a importância do mercado brasileiro para a indústria deles, e é importantíssima como mercado para a indústria brasileira", diz Cavalcanti. Na pauta de vendas brasileiras ao vizinho, 96% são de produtos industrializados. "Apesar das críticas, o Mercosul é um sucesso comercial", afirma ele. (SL)