Título: Banco amplia crédito para média empresa
Autor: Travaglini, Fernando
Fonte: Valor Econômico, 30/07/2007, Finanças, p. C1

Mesmo com a recuperação do crédito destinado às grandes empresas, filão que dá segurança às carteiras dos bancos, as instituições perceberam que a forte expansão do crédito, de 100% nos últimos quatro anos abre espaço para a segmentação da oferta. Os maiores bancos começaram, então, a estruturar áreas específicas para atender empresas com faturamento anual de até R$ 10 milhões, antes como pouco acesso a empréstimos, e reforçaram as equipes de médias, conhecida como "middle" (até 350 milhões).

A melhora da economia brasileira e o aumento da profissionalização das companhias também deram certa tranqüilidade para os bancos. "As indústrias de médio porte têm crescido o faturamento numa velocidade bastante representativa, se modernizando e profissionalizando o negócio", afirma o diretor do Bradesco Empresas, Mauro Gouvêa.

A investida se mostrou ainda mais necessária com a queda das taxas de juros dos títulos públicos, que num passado recente representavam mais da metade dos lucros dos bancos. Isso porque o segmento de empresas de menor porte, por oferecer maior risco, gera maiores retornos, diz relatório da agência de risco Austin Ratings.

O efeito colateral está na alta da inadimplência. "O crescimento da inadimplência reflete muito mais o número acentuado de tomadores de crédito e pela estratégia dos bancos de atuar em nichos de maior risco que antes eram preteridos, como as micro e pequenas empresas e pessoas físicas de mais baixa renda, do que efetivamente dificuldades dos tomadores em honrar seus compromissos", diz o texto da Austin.

No segmento de médias empresas, a principal linha oferecida tem sido o capital de giro. Nos últimos doze meses, esses empréstimos apresentaram evolução de 32%, chegando a R$ 73,8 bilhões. "Com a flexibilidade de operar com prazos mais longos, houve uma revolução e as empresas estão substituindo a conta garantida, renovadas a cada 90 ou 120 dias, por capital de giro de quatro, cinco anos para fazer investimentos de forma mais adequada", revela Gouvêa.

Já no segmento de micro e pequenas, que pode chegar a faturamentos anuais de até R$ 10 milhões, a preferência tem sido pela oferta de linhas com garantia real, para minimizar os riscos, explica o diretor do Unibanco, Marcos Massukado. Empresas menores, ele explica, têm mais informalidade e fica difícil avaliar os riscos. "A liberação de crédito é baseada em modelos estatísticos, enquanto a existência de balanços nas médias permite uma análise mais fundamentalista."

E as diferenças vão além. Enquanto as médias (e mesmo as grandes) possuem linhas dedicadas de comunicação e gerentes específicos que cuidam de no máximo 30 empresas, as pequenas fecham quase todos os negócios via internet, com linhas pré-aprovadas para acelerar o processo, e o gerente funciona quase como um consultor financeiro. "Elas têm dificuldade de projetar o fluxo de caixa e as linhas pré-aprovadas atendem as necessidades", Massukado. Existe também a preferência por atuar em franquias ou em cadeias produtivas, quando os riscos são divididos com grandes empresas.

O Banco do Brasil, com forte tradição no segmento, já liberou neste ano mais de R$ 5 bilhões, para as micro e pequenas, volume 28% superior ao primeiro semestre de 2006. O gerente da área, Francisco Ney Magalhães Júnior, enfatiza o conhecimento já adquirido como um diferencial em relação ao mercado que avança agora nesse segmento.

Já a superintendente do Santander, Cristiane Nogueira, diz que, apesar dos avanços, "ninguém pode afirmar que tem o modelo adequado para atender as pequenas e médias". Há dois anos o banco intensificou a atuação e escolheu a forma de atendimento personalizada, com um relacionamento bastante estreito com o cliente que fatura até R$ 20 milhões. A exemplo dos demais, optou pela oferta de produtos que se adaptem ao fluxo de caixa da empresa, exigindo garantias reais para diminuir os riscos, como recebíveis de cartão de crédito. A estratégia já garantiu a expansão no semestre de 30% em uma carteira relativamente grande herdada do Banespa.