Título: Ganho na abertura comercial virá com perda de emprego, diz Unctad
Autor: Assis Moreira
Fonte: Valor Econômico, 20/01/2005, Brasil, p. A2

Brasil, China e outros países em desenvolvimento podem ter ganhos comerciais com cortes de tarifas de importação de produtos industriais e bens de consumo na atual rodada de negociações na Organização Mundial de Comércio (OMC). No entanto, esses ganhos virão acompanhados de ajustes de curto prazo que provocarão perda de emprego, queda na produção em alguns setores e redução na receita com tarifas. A constatação é de estudo da Organização das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad). A publicação sai uma semana antes de miniconferência ministerial em Davos (nos Alpes suíços), com 25 países, para tentar dar novo ímpeto à Rodada Doha. Na OMC, os países industrializados insistem para que nações como o Brasil e Índia se comprometam com a abertura na área industrial, caso queiram o avanço das negociações em outras áreas, como agricultura. Mas o estudo da Unctad recomenda aos países em desenvolvimento que tentem antecipar onde podem ter maiores dificuldades na área industrial, antes de se engajarem em novas liberalizações de seus mercados. Os resultados dos modelos econômicos testados pela Unctad indicam que os países em desenvolvimento poderiam aumentar suas exportações em 4% com liberalização industrial, o que resultaria em renda adicional de US$ 175 bilhões nas bases atuais. No caso do Brasil, pelo cenário moderado da chamada Fórmula Suíça, as exportações aumentariam 6,3% e excederiam um crescimento das importações de 5,7%. Por sua vez, a China elevaria as exportações em 10% e as importações em 12,5%. De maneira geral, pode não haver grandes mudanças ou mesmo ganhos de emprego em vários países em desenvolvimento, mas também podem ocorrer perdas importantes de postos de trabalho em certos setores de alguns países. No caso do Brasil, as perdas de emprego estimadas com base na proposta mais ambiciosa da Formula Suíça (cortar as tarifas mais altas) são relativamente modestas comparadas a alguns asiáticos. Haveria desemprego de 5,2% no setor de máquinas e equipamentos, 4,3% no setor automotivo, 1% no setor eletrônico. Mas haveria aumento de emprego de 3,2% no setor de metais não-ferrosos e de 7,5% no setor de couro. Em comparação, a Unctad estima que a produção cairia significativamente em certos países da Ásia, provocando por exemplo corte de 36,8% só no setor automotivo na região. A Unctad calcula também que o Brasil pode perder 64% de sua receita de US$ 5,4 bilhões proveniente de imposto de importação sobre produtos industriais, e a China, a metade dos US$ 32 bilhões que embolsa hoje.