Título: Câmbio afeta mais indústria que corte de tarifas em Doha
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 31/07/2007, Brasil, p. A2

Como o Brasil pode resistir tanto ao corte de "água" nas tarifas industriais na Rodada Doha, quando o ajustamento que impõe no setor industrial é bem mais dramático com sua atual política cambial? Importante participante na cena comercial, em Genebra, fazia essa indagação com um gráfico do banco JPMorgan na mão, apontando valorização efetiva de 50% do real em relação ao dólar entre abril de 2003 e maio deste ano.

"De que mundo estamos falando? A valorização do real faz um ajustamento enorme, enquanto os japoneses deixaram sua moeda cair bastante e a França reclama cada vez mais do euro forte."

O câmbio, acrescenta, impõe ajustamento num período muito menor do que os oito anos previstos para o Brasil "reduzir tarifas que sequer aplica". Quando os negociadores falam de cortar "água", se referem à diferença entre a alíquota consolidada (o máximo que pode impor), cuja média é de 29%, e a aplicada, média de 11% no país.

O temor de certos observadores é de que, com o o mercado doméstico sofrendo mais concorrência das importações e as exportações perdendo competitividade, o país mostre menos flexibilidade na OMC também por causa da política cambial e continue a elevar alíquotas, como acontece em têxteis e calçados.

Um participante apóia seu argumento tirando da pasta outra série de quadros que mostra a inversão na taxa de crescimento de manufaturados brasileiros desde o ano passado, com o ritmo das importações superando o das exportações em mais setores.

Para os principais produtos, a expansão das vendas foi de 32,2% e de importação de 31,2% em 2004. No ano seguinte, as exportações cresceram 22,2% e as importações 17%. Em 2006, a tendência se inverteu com o ritmo de crescimento das importações em 19,5% e exportações em 18,7%. Nos últimos dois anos, o crescimento das importações superou o das exportações em setores como automotivo, equipamentos de transporte, telecomunicações, maquinários e equipamentos eletrônicos.

Outro quadro colocado na mesa mostra que a Ásia superou a Europa como maior parceiro comercial do Brasil. O comércio com a China já é quase idêntico ao que o país faz com o Mercosul. A concorrência chinesa ameaça tomar espaço do país na América do Sul.(AM)