Título: PT teme atuação de governador na crise
Autor: Lyra, Paulo de Tarso e Romero, Cristiano
Fonte: Valor Econômico, 31/07/2007, Política, p. A8

Apesar de o governo federal fazer uma boa avaliação da proximidade entre a equipe do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), o PT faz ressalvas. Integrantes do partido temem que o tucano atraia para si os resultados positivos na condução das medidas que deverão minimizar a crise do sistema aéreo.

Hoje, a Executiva do PT se reunirá para debater, entre outros temas, o apagão aéreo e a condução política do caso. De imediato, os petistas trazem em seu discurso a disputa pela autoria dos projetos que estão sendo debatidos como solução para o sistema aéreo. Segundo o deputado Carlos Zarattini (SP), integrante da CPI da Crise do Sistema de Tráfego Aéreo, a construção de uma terceira pista no aeroporto de Congonhas, assim como a utilização de veículos expressos para ligar a capital aos aeroportos de Cumbica e de Viracopos já foram apresentadas pelo partido "há dois, três meses" na comissão parlamentar. Essas medidas foram defendidas por Serra na reunião com o ministro da Defesa, Nelson Jobim, na sexta-feira, em São Paulo.

"As propostas que Serra apresentou nós já tínhamos debatido há meses. Não existe conflito de interesses. Acontece que Serra defende esses medidas e diz que deveriam ter sido feitas pelo governo federal, mas há muito tempo eles (PSDB) poderiam ter investido na ligação dos aeroportos com a capital há muito tempo", criticou Zarattini.

Com argumentos semelhantes, o deputado Cândido Vaccarezza (SP) completou: "Se o Serra propõe alguma coisa, a imprensa dá destaque. Se somos nós, ninguém fala nada". Para o deputado Jilmar Tatto (SP), a oposição quer faturar politicamente com o caos aéreo. "Serra quer surfar nessa onda porque se prepara para governar o país. Ele surfa nos recursos federais, sem dar o crédito".

O grupo paulista do PT entende que, neste momento, a proximidade entre as duas gestões é "natural" , como ressaltou Zarattini: "As propostas passam pelos dois governos e é difícil o governo federal não ter essa relação com São Paulo". Entretanto, há ressalvas. Para o deputado Tatto, é " ingênuo pensar que a interlocução de Jobim fará com que Serra amenize seu discurso, ou que a oposição se aproximará do governo federal. Serra é claramente candidato à Presidência e é importante que cada um marque seu território".

Na Assembléia paulista, onde Serra tem apoio de pelo menos 70 dos 94 deputados, o líder do PT, Simão Pedro, disse não temer que a aproximação dificulte ainda mais as críticas ao tucano. "Mas vamos fiscalizar para que Serra não faça uma apropriação indevida dos investimentos do governo federal", afirmou Pedro.

Além da atuação de Serra, o PT preocupa-se também com as manifestações contra o governo Lula, orquestradas pela classe média, grupos empresariais e por ONGs. Na reunião de hoje, o partido deverá discutir as estratégias para evitar que a imagem do presidente saia desgastada da crise aérea. (Colaborou Raymundo Costa, de Brasília)