Título: Governo avaliza negociação com Serra
Autor: Lyra, Paulo de Tarso e Romero, Cristiano
Fonte: Valor Econômico, 31/07/2007, Política, p. A8

O governo vê com bons olhos a aproximação do ministro da Defesa, Nelson Jobim, com o governador de São Paulo, José Serra, do PSDB. O Palácio do Planalto avaliza a aproximação com o governador tucano e enxerga nela a possibilidade de distender a relação com a oposição, num momento político - o apagão aéreo - difícil para o governo. Jobim incorporou, por exemplo, as idéias de Serra e do prefeito Gilberto Kassab (PFL), para desafogar o aeroporto de Congonhas.

"Serra já esteve mais de seis vezes com o presidente Lula. Não há nenhum problema com a aproximação promovida por Jobim, que é um amigo de longa data do Serra", observou um ministro com assento no núcleo decisório, em Brasília. Ontem, durante a reunião da coordenação política, o ministro da Defesa, relatou a proposta de construção de uma terceira pista no Aeroporto de Cumbica e a construção de uma via de trem expresso ligando Guarulhos a São Paulo, obras sugeridas pelo governador paulista. Como segunda opção, prevê-se a ampliação do aeroporto de Viracopos, em Campinas, também com a construção de uma via com trem expresso ligando as duas cidades.

Jobim informou ontem, na reunião com o presidente Lula e os integrantes da coordenação, que conversou sobre essas propostas com Serra e o prefeito de Guarulhos, Elói Pietá. Jobim visitou sexta-feira o hangar da TAM Express e a pista do aeroporto de Congonhas. Foi a primeira visita do novo ministro da Defesa ao local da tragédia do vôo JJ 3054. "O cenário era devastador. Tudo ficou parecendo um forno", disse Jobim, segundo relato de um dos presentes.

Na ocasião, o ministro conversou com Serra e Kassab e expôs as medidas que o governo federal está tomando para desafogar o movimento em Congonhas. Serra teria comentado o interesse em acelerar a construção da terceira pista de Guarulhos. O principal obstáculo para as obras - a presença de uma favela ao lado do aeroporto - seria menor do que o alardeado. "São cinco mil famílias e não trinta, como se andou alardeando", assegurou Jobim.

A proposta de ampliar o aeroporto de Cumbica consta de ofício encaminhado por Serra e Kassab ao presidente Lula, na mesma semana em que ocorreu o acidente da TAM. No documento, governador e prefeito cobraram medidas "estruturais" da Anac e da Infraero. "Adotar medidas adequadas e eficientes é um dever de ambas as instituições citadas. E a sociedade como um todo tem o direito de exigir que a Anac e a Infraero, sob a orientação do presidente da República, realizem o que lhes compete e com a urgência que é imposta pela natureza dos interesses confiados à sua proteção", afirmaram Serra e Kassab no documento.

No Palácio do Planalto, a ação de Jobim foi vista sem reservas. Antes mesmo da nomeação do novo ministro, o presidente Lula já planejava fazer um aceno a Serra. No governo, todos sabem que Jobim é muito próximo do tucano - o governador foi o primeiro a saber, na noite de terça-feira, que o ex-presidente do STF assumiria o comando da Defesa. "O pensamento (no Palácio do Planalto) é buscar saídas técnicas e rápidas para a crise", assegurou um assessor do presidente.